Lançamento da editora Marco Zero, o álbum Orixás - Do Orum ao Ayê retrata a criação do mundo segundo a riquíssima mitologia africana. O objetivo nobre de difundir uma cultura que tem muito mais a ver com a nossa do que a mitologia grega entre outras torna qualquer trabalho desse tipo justificável.
Afinal de contas, por que ligamos tão pouco para a África em relação a países europeus ou asiáticos? Será que a fome na Etiópia é tão menos relevante que a economia chinesa? Nossas raízes talvez estejam mais próximas daquele continente do que em muitos países sul-americanos. Ou ao menos, algumas delas. Seja como for, damos menos atenção do que deveríamos.
Por isso mesmo, é desafiador tornar um trabalho desses tão importante quanto a necessidade de conhecermos melhor nossas raízes africanas. É do desenhista Caio Majado o principal mérito de tornar Orixás - Do Orum ao Ayê um trabalho pop sem se tornar banal. Sua arte torna Olorum meio deus e meio super-herói, assim como os demais seres mitológicos. E afinal de contas, os universos Marvel e DC não são também, de certa forma, uma mitologia da nossa cultura?
E assim como a arte de Majado, o arte-finalista Omar Viñole desempenha um bom papel nas cores e acabamento da edição. A impressão e acabamento da Marco Zero justifica fácil o preço de R$ 19,90 do álbum.
Alex Mir tem um arsenal vasto de histórias de toda uma cultura para adaptar. Não é uma tarefa fácil. O autor opta pelo didatismo, embora tenha material para criar um verdadeiro épico. Embora a arte de Orixás emule os comics norte-americanos, é mais uma produção educativa. E como pode ser útil para você?
Se você não conhece nada do assunto, pode ler este álbum antes de seguir para Os Filhos de Anansi, maravilhosa história cunhada pelo mestre Neil Gaiman. Em outras palavras, é um trabalho indicado para iniciantes em mitologia africana, estudantes e professores.
É justo que alguns leitores preferissem algo com mais cara de comics, mas vale respeitar a intenção dos autores. Em tempos onde a era da informação se mistura com a da alienação cultural, Orixás - Do Orum ao Ayê é um documento relevante de uma parte nossa que pouco conhecemos. De uma raiz que ainda está viva em cada um de nós, mas que damos pouca importância. Pode ser um bom momento para cada leitor mudar isso.
Nota: 7
Bugman curte muito mitologias
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