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A gente lemos: Wilson, de Daniel Clowes

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Eu ia começar esse post com uma piadinha acerca de um certo MdM, mas cansei disso.

Quase dois anos atrás, tive meu primeiro contato com Daniel Clowes, ao ler Mundo Fantasma (Ghost World), sua obra mais famosa. De lá pra cá, ficou impossível então ignorar o seu trabalho.

Daí veio Wilson. Lançado no ano passado pelo Quadrinhos na Cia. e figurinha fácil em dez a cada dez listas de melhores do ano, o protagonista, Wilson (óh!) é assim descrito na contracapa do álbum:

Wilson é um adorável malandro um solteiro solitário um pai e marido dedicado um idiota um sociopata um fanfarrão desiludido uma flor delicada 100% Wilson.

O álbum, obviamente, narra momentos na vida de Wilson, um sujeitinho arrogante, prepotente e incapaz de enxergar meio palmo além de seu próprio umbigo. Sua história é contada através de HQ’s de uma página, cada uma delas narrando um flash da vida do sujeito. Interessante é que Clowes faz isso alternando estilos de desenhar: numa hora vemos seu traço já visto em Ghost World, depois um traço cartunesco, outro mais linha-clara e por aí vai. Aparentemente (ou eu não consegui sacar) a mudança de estilos é aleatória, não havendo nenhum significado na escolha de um ou de outro com relação à trama.

Essa alternância de estilos tem um efeito curioso: num dado momento, você deixa de percebê-la. Talvez seja um viés que nós, leitores de comics de super-heróis e sua não constância de traço estejamos acostumados, mas é um efeito muito interessante de se observar. Clowes modifica MUITO o estilo e a história segue fluindo naturalmente, como se não o tivesse feito. Não há dificuldade em identificar os diferentes personagens, não trava a leitura da HQ – é como se o cérebro da gente criasse uma versão “prototípica” de cada personagem, para que eles possam ser reconhecidos em meio à variação. Claro, isso acaba tendo um efeito ruim, que é uma possibilidade de que o envelhecimento desses mesmos personagens, muitas vezes mostrado de maneira sutil, passe despercebido. Mas nada que uma leitura atenta não consiga evitar.

Assim como Mundo Fantasma, Wilson é um álbum triste, porque Wilson é um sujeitinho patético que se acha importante demais. Ou que finge se achar importante demais como forma de não dar voz (ou vez) ao fato de que é circundado por pessoas mais interessantes, com algo mais a dizer do que ele próprio.

Enfim, Wilson, o álbum, é bom justamente porque (e isso é deprimente) todo mundo com certeza conhece um Wilson. Ele(a) pode ser seu(sua) colega de faculdade, de trabalho. Pode ser que você tenha namorado com um(a). Pode até ser que você seja um(a) Wilson, ou que leia diariamente os comentários ou os posts dele(a) aqui no MdM… Ainda se todos tivessem a epifania que o próprio Wilson parece ter no fim…
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Wilson, de Daniel Clowes. Editora Cia. das Letras (Quadrinhos na Cia.). 80 páginas, R$39,90.

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Nota: 8


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