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A Gente Vimos: Moonrise Kingdom

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E se Bruce Willis e Edward Norton fossem personagens de desenho animado?

Em 1965, numa ilha no meio do nada, a monotonia da comunidade local é sacudida quando um jovem ófão, Sam (Jared Gilman), foge do acampamento dos escoteiros para encontrar Suzy (Kara Hayward), a filha de um casal de advogados em crise. Os dois se sentem deslocados e incompreendidos em seus respectivos ambientes e decidem ir viver juntos.

Isso faz com que o Chefe da Polícia Sharp (Bruce Willis), o Chefe dos Escoteiros Ward (Edward Norton), os pais de Suzy, Sr. e Sra. Bishop (Bill Murray e Frances McDormand) e todos os escoteiros da ilha se reúnam para localizá-los, enquanto um furacão se aproxima da lugar.

Wes Anderson é um dos diretores mais estilosos do Cinema atual. Não só porque ele mantém um clima de cinema independente, mesmo trabalhando com um elenco de estrelas, mas porque ele consegue traduzir como poucos um universo particular da sua mente pras telas de cinema.

A primeira coisa que chama a atenção em Moonrise Kingdom é como a composição dos quadros e dos personagens é profundamente influenciada por um estilo cartunesco, a ponto de todo o longa metragem poder ter sido feito em forma de desenho animado. Que o digam as participações do narrador (Bob Balaban) que mais parece o Wally do Onde Está Wally?

Coincidência ou não, o último trabalho do Wes Anderson foi na animação O Fantástico Sr. Raposo. Moonrise Kigdom também guarda elementos que se assemelham com outros trabalhos do diretor como as disfunções familiares e o humor nonsense e muitas vezes melancólico. Indo na contramão de quase todo mundo que faz comédia hoje em dia, Anderson é incapaz de trollar seus próprios personagens ou fazê-los passar por constrangimentos meticulosamente calculados pra arrancar risadas do público. O que nãoquer dizer que trama seja politicamente correta. Que o diga o escoteiro caolho que é chamado de… caolho.

O diretor demonstra uma grande sensibilidade com aquele bando de losers tirando o humor da própria bizarrice e do cotidiano deles, como o patético caso extraconjugal que o patético Sharp tem com a patética mãe de Suzy, que busca com isso uma válvula de escape de seu não menos patético casamento. Todo mundo sabe, mas todo mundo finge que não liga desde que eles saibam disfarçar, mas Sharp é, como Suzy diz, “burro e triste” demais pra fazer isso direito.

Daí entram as crianças, os verdadeiros protagonistas do longa metragem, os únicos que se recusam a aceitar a pasmaceira daquele mundo medíocre. Suzy, que odeia os pais, e não consegue se comunicar com os irmãos e Sam, que não pára com nenhuma família adotiva e depois dessa aventura com a namorada provavelmente iria párar num reformatório com direito a tratamento de choque. Inclusive um dos melhores momentos é no começo quando Sharp e Ward investigam o passado de Sam e percebem de forma tragicômica o quanto o garoto é rejeitado.

O elenco é um diferencial. É uma piada pronta ver os astros Edward Norton e Bruce Willis unindo forças pra enfrentar o mais próximo de uma vilã no filme, a assistente social interpretada por Tilda Swinton em participação especial. Ou, como eu pensei uma hora, é como ver Tyler Durden e John McClane encarando Orlando. Porém, exatamente por essa característica de melancolia misturada com nonsense é que não é sempre que Moonrise Kingdom vai fazer rir. Nem sempre o bizarro e inusitado é divertido. Algumas vezes é só bizarro e inusitado.

A não ser claro, quando Bill Murray está inspirado, como nas cenas da briga do píer e quando ele encontra o casalzinho pela primeira vez. Mas o filme é definitivamente das crianças. Tanto que a maior reviravolta na trama acontece quando os escoteiros – que agem como se fossem uma tropa militar – viram a casaca pro lado do casal.

E num mundo onde adultos se comportam como crianças e crianças se comportam como adultos o personagem do Norton sobressai por ser um adulto que se comporta como uma criança que se comporta como adulto. E, acredite, no universo de Wes Anderson isso faz sentido. Mas não se engane. Norton, Murray, Willis, Swinton, McDormand são coadjuvantes. Quem rouba a cena mesmo são Sam e Suzy. Personagens mais simpáticos, são eles que seguram a onda na trama, quando o ritmo começa a ficar meio arrastado.

Jared Gilman é muito foda e Kara Hayward é mais foda ainda. Ela deve seguir o caminho daquelas atrizes-mirins que já demonstram talento precoce, como Abigail Breslin, Dakota Fanning e Chloe Grace-Moretz.

Moonrise Kingdom pode até ter uma narrativa por vezes lenta e uma conclusão previsível, mas é também uma sigular visão cartunesca que Wes Anderson imprime sobre uma história dos encantos e desencantos do primeiro amor.

NOTA: 8,7.


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