Minha única decepção com este álbum foi ir para a GibiCon lerdamente pensando que Mawil era mulher…
Claro, isso se deve única e exclusivamente ao fato de que, como o Change, eu erro e sou burro – afinal de contas, se ao invés de divulgar uma foto do cabra a GibiCon divulgou o desenho de uma garota toda salustrosa fazendo topless no Rio de Janeiro, deve ser porque o/a autor é mulher, né? Deve ser. Buuuurro.
Enfim, Mawil não é mulher. Do contrário, é um alemão que teve um bocado de problemas com as mulheres – mas nada muito diferente de mim ou de você, nerds clássicos e um tanto distante dos galãs da escola.
Em “Mas podemos continuar amigos…” seu álbum de estréia (e que nasceu como um trabalho de conclusão de curso) narra uma série de desventuras que já aconteceram comigo, com você e com todo mundo. Aquelas muitas, muitas e muitas situações em que, indiferentes a todo tesão, paixão e sedução que você nutria por elas, a resposta é um frio e eufemístico “mas podemos continuar amigos”.
Mawil faz do álbum uma autobiografia que começa numa mesa de bar, e retrocede até os momentos mais ternos da vida do autor, até sua primeira comunhão – coladinha com seu primeiro fora. O trabalho artístico de Mawil é ágil e sem muito refinamento, mas se engana quem pensa que isso é um defeito: muito pelo contrário, esse “pouco refinamento” dá personalidade ao traço e, na minha opinião, chega a ser bastante invejável. Não há que se confundi-lo, também, com falta de domínio da técnica: Markus Witzel (o nome verdadeiro do cabra) sabe muito bem o que está fazendo, a beleza da página 28, por exemplo, deixa isso bem claro. Na verdade, é um estilo muito mais puxado para o cartoon, e em alguns momentos chegou a me lembrar o trabalho do (pouco conhecido do público brasileiro) Jules Feifer.
O lançamento nacional do livro é fruto de uma parceria entre o Goethe Institut e a Zarabatana Books – a mesma parceria que trouxe Mawil, o autor, para o lançamento da obra na última GibiCon. Conversando com ele, Markus me mostrou alguns de seus outros trabalhos, todos autobiográficos ou envolvendo coelhos bizarros – e disse que já há um outro álbum seu sendo sondado para uma versão nacional.
Tomara. É um material bem bacana, divertido e despretensioso, como os quadrinhos bem podem ser.
Mas podemos continuar amigos… (Wir können ja freunde bleiben). De Markus Mawil. Zarabatana Books, 64 páginas, R$ 31,00.
Nota: 7,5