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Greg Rucka chutando o pau da barraca!

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Pense num cidadão que ficou puto. Pense!

Greg Rucka é um cara que todo mundo conhece. Roteirista com passagens pela Mulher Maravilha, Batwoman e, talvez a obra-prima de sua carreira, Gotham City contra o crime (Gotham Central). Depois de um bom período na DC, o cabra migrou pra Marvel, onde vinha trabalhando no Justiceiro. Digo “vinha” porque, com o advento do reboot-que-não-é da Marvel, o Marvel NOW!, ele foi dispensado do personagem, que passará a integrar um super-grupo, os Thunderbolts, ficando à cargo de outra equipe criativa.

Fato é que, com essa saída, Rucka ficou emputecido e saiu quebrando tudo, conforme as seguintes declarações, publicadas na revista Mark Millar’s Clint (e que você pode dizer que já viu no Baile dos Enxutos ou no Terra Zero, pra não perder a chance de mimimizar):

Cheguei ao fim do meu trabalho por contrato. Eu estou gostando de trabalhar no Justiceiro, mas o personagem não é meu, é da Marvel, e eu já sabia que seria assim. Eu passei muito da minha carreira nos quadrinhos a serviço de outros senhores, e eu tive o suficiente disso por agora. Estou farto da forma como as Duas Grandes tratam as pessoas.

Eu dei sete anos muito bons para a DC e eles aproveitaram bastante de mim. Isso é parcialmente culpa minha, mas não inteiramente. Neste ponto, não vejo nenhuma razão pela qual eu deveria ter que colocar-me com isso, eu posso afundar ou nadar por conta própria.

Você está vendo uma hollywoodinização bizarra das duas principais empresas. Houve pelo menos um período onde eu senti que o caminho pelo qual elas queriam fazer dinheiro era oferecendo as melhores histórias possíveis, agora a qualidade do trabalho importa menos do que o fato de o quadrinho sair. Há muito menos um desejo de ver um bom trabalho ser feito.

Dan DiDio chegou a dizer, e este é o mesmo cara que disse que Gotham City Contra o Crime (GCCC) nunca seria cancelada enquanto ele estivesse lá, às pessoas o que GCCC era uma HQ ótima, mas que nunca fez dinheiro.

Bem, dê uma olhada em suas vendas como encadernado! Essa HQ não tem feito nada além de dinheiro nesse formato. O que eu estou ouvindo agora é, “Isso (GCCC) nunca valeu nada para nós de qualquer maneira.” Então quer saber? Eles podem parar de vender os encadernados de Batwoman: Elegia, Mulher Maravilha e tudo o mais que eu fiz, porque, claramente, o meu trabalho não está gerando nenhum dinheiro pra esses caras.

Agora, do jeito que o mercado está, eu não tenho mais paciência.

Meu trabalho no Justiceiro termina no nº 16, e em seguida, faremos uma minissérie em cinco edições chamada War Zone e então eu saio fora. É isso! Os pica-grossas da Marvel, sem falar comigo, decretaram que ele vai participar de uma equipe em outra revista. Essa é a escolha deles, que são os donos, mas eu não tenho que ficar feliz com isso. Estou feliz por ter tido a oportunidade de trabalhar no personagem e eu estou orgulhoso do trabalho que fiz.

Apesar do que dizem os editores, o interesse deles no talento é mínimo, agora o interesse é apenas na valorização financeira das suas propriedades. Que não era o caso de dois ou três anos atrás, quando houve a disputa pelos exclusivos [os contratos de exclusividade de autores e desenhistas], mas que hoje já não acontece mais. Em última análise, eles estão dizendo: “Nós não precisamos de você”, porque eles podem conseguir mais um milhão como você.

Para cada pessoa que dispensa a oportunidade de escrever o Homem-Aranha ou o Superman, eu garanto que existem 5.000 escritores ávidos que lutariam com unhas e dentes para fazê-lo. Mas só porque eles querem fazer isso, não significa que eles são capazes de fazê-lo. Tudo se resume inteiramente a Warner perceber o que tinha, mas não explorava. No final da franquia Harry Potter, disseram: “Caceta, precisamos rápido de mais alguma coisa”, quando olharam para o modelo da Marvel Studios sendo muito bem sucedido. A DC está correndo atrás da Marvel, por causa de coisas como Os Vingadores quebrando 600.000.000 no faturamento doméstico. Isso é um monte de dinheiro, e eu não invejo a Warner por que querer fazer dinheiro: seria como culpar um tubarão por querer comer, mas eu acho que a busca de lucros tem tido um efeito negativo sobre o lado criativo e artístico.

Negada, e aí? Cara, eu concordo em gênero, número e degrau com que o Rucka diz, mais do que isso, suas declarações fazem eco com o que vem sendo dito por muita gente desde o reboot da DC, por exemplo, gente como George Pérez e outros por aí, sem falar da eterna revolta do Alan Moore, que também passa por esse viés da “arte Vs mercado”.

Na verdade, tenho críticas a quem diz mais do que ao que diz. Será que quando Rucka afirma que se ele não quiser escrever os Superman, por exemplo, existirão duzentos outros roteiristas dispostos a fazê-lo, isso é uma verdade para todo mundo? Digo, essa descartabilidade é comum a todos os autores ou ela atinge alguns mais do que outros? Que me desculpem eventuais fãs do cara, mas que eu me lembro, exceto por Gotham Central, Greg Rucka não tem trabalhos muito brilhantes por nenhuma das duas editoras não – mesmo sua Batwoman (e ele é co-criador da personagem) não é lá muito inspirada não, tendo sido em muito superada pelo trabalho do Willians III, por exemplo…

Ou seja: será que esse mesmo tratamento, de coisa descartável, é dado tanto a Rucka quanto a um Morrison ou Gaiman da vida? Será que mais do que pensar em “criatividade Vs lucro”, a indústria também tem olhos na equação que diz que criatividade gera lucro? Porque se for esse caso, acaba que ele é dispensável justamente por não ser nenhum gênio, não ser um daqueles caras que você diz: “Opa, HQ nova do Rucka! É cofre certo!”, como se pode dizer de um Michael Bendis ou Brian Azzarello, por exemplo (que também derrapam, mas menos em termos proporcionais).

Enfim, concordo com tudo que ele diz. Só não sei se concordo com o direito dele de dizê-lo…



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