
E diz o senhor: nem só de Morrison o homem viverá!
Era uma vez um Homem Morcego. Ele era órfão e, obstinado, tornou-se o Sr. Fodão, o Pica-das-Galáxias na proteção da sua cidade, do mundo, do universo e de tudo o mais.
Aí ele se perdeu no tempo. Quer dizer, ele morreu, mas tinha era se perdido no tempo. E como acontece com todo mundo que passa por uma experiência dessas, o Homem Morcego ficou meio lelé, um pouco tantã e decidiu que a sua cidade, o mundo, o universo e tudo o mais era muito pra ele tomar conta sozinho, e correu o globo atrás de gente que fosse parecida com ele para, cada um no seu quadrado, cuidarem do mundo.

Essa é a premissa básica de Corporação Batman: depois de "morrer" e voltar, Bruce Wayne decidiu assumir pro mundo que era o financiador das atividades do Batman, e que ia abrir uma franquia, espalhando homens-morcego por todo o globo terrerestre. A proposta do careca do Grant Morrison, que vem escrevendo a morcega há tempos, encontra eco em outros momentos da historiografia do personagem para propor isso - o que eu mais gosto de citar é Reino do Amanhã (lá também o Morcego tem Batmen espalhados por todo lado), mas, infelizmente, a mais evidente é a Era de Prata.
Neste encadernado da Panini, vemos as edições de 1 a 5 da Batman Incorporated, mostrando o Morcego convocando morceguetes no Japão, na Argentina e na Inglaterra, com o apoio eventual da Mulher Gato e da Batwoman.

Nos roteiros, Morrison segue fazendo aquilo que lhe tornou famoso, que seja, uma história aparentemente confusa mas que se revela num todo muito maior ao final. O grande problema aqui, provavelmente, é o que eu já antecipei: em Batman Inc., Morrison está votivo demais, devoto demais da Era de Prata. Na introdução do encadernado, Levi Trindade chama atenção para o fato de que o Careca trouxe de volta o lado "bem-humorado" de Bruce Wayne - o que é uma inverdade, ou, na melhor das hipóteses, uma meia verdade: Morrison trouxe de volta não um Bruce Wayne bem humorado, mas um Batman que beira o Tom Cavalcante - ele faz gracejos, se expõe, brinca com os aliados, fica em segundo plano perto deles. Enfim, em Batman Inc. a Morcega é o exato oposto do que se tornou pelas mãos do próprio Morrison! Afinal, quem não se lembra que foi o próprio Deus do Bugman quem tranformou o Batman no Sr. Fodão dos Fodões?

Ao escrever uma história como "O Caso Kane" (Batman Incorporated #4), Grant Morrison não está mais (como fazia tão bem) reutilizando conceitos da Era de Prata, ele está escrevendo uma história situada na Era de Prata. Lida em pleno século XXI, a história chega a ser constrangedora, com o Morcego aprendendo a dançar tango no telhado de um prédio, por exemplo. Nessa história, o velho escocês se equiparou a outras putinhas da Era de Prata, como Geoff Johns e Alex Ross, por exemplo, fazendo um roteiro que simplesmente é um "vale a pena ver de novo". Pra piorar ainda mais a noção geral da trama do encadernado, a menção ao Leviatã faz parecer que Morrison está se repetindo, gerando um deja vu filho da mãe com os momentos iniciais da sua Crise Final.

Na arte, há três coisas bem importantes a dizer: 1) Yanick Paquette é bom, muito bom MESMO. Minha única crítica é que suas mulheres precisam ser melhor diferenciadas - quando Tristessa aparece ao lado de Bruce Wayne, eu tive certeza que se tratava de Selina Kyle usando uma peruca; 2) J.H. Williams III é o capista dos capistas. Penso que a indústria tem tido poucos bons capistas como ele, James Jean (Fábulas) e Dave Johnson (100 Balas). Acho e gostaria muito que ele tivesse desenhado alguma das edições; 3) Assim como o roteiro de "O Caso Kane" é uma chupeta sem vergonha à Era de Prata, a arte de Chris Burnham chupeta muito o estilo do Frank Quitely. É sério! Se não fosse o desenho dos olhos, eu diria com convicção que se trata do Quitely - mas como Burnham faz olhos tipo cachorrinho de papel de carta de menina, eu fiquei com a impressão de que era o Quitely arte-finalizado por algum estranho. A vantagem é que se ele tinha de copiar alguém, ao menos copiou alguém bom de serviço... afinal, vai que ele resolve copiar o Liefeld?

Corporação Batman (encadernado, volumes 1-5 de Batman Incorporated). Grant Morrison, Yanick Paquette e Chris Brunham. Editora Panini, 132 páginas, R$ 15,90.
Nota: 6
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