
Porque, porra! É o Novo HomemGay (Neil Gaiman em inglês nórdico, sua anta!)! O cara que escreveu Sandman!
Desde que eu li Sandman (já velho), fiquei embasbacado com a sei lá como chamar, "ideologia" que Gaiman usou para construir a história. A noção de mitos, do poder deles, da permanência e energia criadora das histórias... Enfim, aquilo foi ao encontro a um monte de coisas que eu pensava, abriu novas portas, ampliou conceitos, alinhou idéias. Naturalmente, saí como uma vagabunda a procurar outros materiais dele.

Fui então atrás de dois de seus livros, aqueles que aparentemente mais estavam ligados às coisas que eu mais gostei em Sandman: "Deuses Americanos" e "Os filhos de Anansi", tudo para descobrir que, lançados aqui pela Conrad, ambos tinham esgotado.
Larguei de mão, até que recentemente o falecido Mallandrox sem querer me chamou atenção para uma nova edição do primeiro pela Conrad. Corri, comprei e como um adolescente bobo com seu novo volume da saga Prepúcio, me pus a ler.

Em "Deuses Americanos", Gaiman pega vários mitos (deuses) do mundo e os coloca nos Estados Unidos na contemporaneidade, cada um deles levado até lá pelos sem-número de imigrantes que um dia chegaram à América (alguns muito antes de existir uma "América" - se é que me entendem). Esses deuses (Tór, Anúbis, o Barão Samedi, Xangô, Anansi e tantos outros) convivem naquela terra até verem a fé dos homens neles diminuir, ao mesmo tempo em que crescem o número de "altares" aos deuses modernos: as estradas de ferro, a tecnologia, a internet, a TV, etc. Nesse contexto, entra o personagem principal, Shadow, um ex-presidiário que acaba envolvido nessa treta divina.
Parece realmente bom né? Pois só parece, infelizmente.
Deuses americanos tinha tudo pra ser sensacional, mas acaba nos apresentando um Neil Gaiman mais perdido do que azeitona em boca de banguela - ele conduz a trama como um escritor de novela da Globo, que muda os rumos da trama ao sabor da audiência. É sério. Observe por exemplo quando Samantha Black-Crow aparece pela primeira vez - é dito com clareza que se ela não é uma manifestação de algum deus moderno, ela ao menos está envolvida com eles - para depois, no fim, ser só uma garota aventureira, pegadora de carona.
Se isso não fosse ruim o suficiente, seus personagens são chatos, rasos e desinteressantes: Shadow (cujo nome inexplicavelmente não foi traduzido) então... caramba, chega a ser insuportável de tão alheio, desinteressado, inumano. Um personagem sem qualquer personalidade (com o perdão do trocadalho), sem ação, sem o mínimo de verdade.
As reviravoltas da trama são todas forçadas, duras, daquelas que acontecem e você se pega dizendo: "caramba! Isso é tão inesperadamente sem sentido!" que rola até aquela brochada.

"Mas Porco, e os deuses?" Você pergunta. Não sei deles. Exceto por Odin/Wednesday (nem vem reclamar de spoiler, o nome é óbvio), os outros são apenas citações rasas. Quase um catálogo preguiçoso e contraditório. Sim, contraditório! Se os deuses antigos foram esquecidos pelos homens, o que leva Gaiman a acreditar que nomes como Czernobog ou Bilquis dirão algo aos leitores?
É sério, Deuses americanos é irritante de tão mal construído, com seus mistérios forçados, sua sucessão de fatos sem sentido, suas pontas soltas ignoradas (afinal de contas, onde a moeda dourada de Mad Sweneey se encaixava no plano de Wednesday?), que ao terminar de ler eu fiquei puto de ter gastado dinheiro com ele. E mais puto ainda de ter gerado tanta expectativa por isso, ter lido até o fim na esperança vã de que ia ficar bom de uma hora pra outra.
Uma pena. O cara que escreveu Sandman parecia ser um autor tão bom...

Deuses Americanos (American Gods), de Neil Gaiman. Editora Conrad, 448 páginas (da mais pura linguiça). R$ 34,90.
Nota: 1 (por causa de alguns dos contos soltos pela narrativa)
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