
Aproveitei o feriado desta semana para dar uma rápida passada em Miami para um café. Daí, enquanto aguardava o embarque de lá pra cá, dei uma conferida na situação das minorias no novo UDC... É, eu sei. Foda.
Logo quando se anunciou o novo UDC pós-recauchute, uma das coisas que gerou conversê veio de detrás das "câmeras" - as mulheres rodando nos roteiros (só Gail Simone sobreviveu, mas sabe-se lá por quanto tempo) e personagens negros sendo limados sem mais nem porque. Será que a DC ia virar, em definitivo, uma editora de heróis caucasianos, heterossexuais e cristãos? A observação mostra que não, e dos 52 títulos iniciais, um número razoável deles foi estrelado por personagens que fogem a este padrão hegemônico. Mas e qualidade? Tem?
Por isso, resolvi dar uma conferida em cada um desses títulos estrelados por minorias (na falta de uma palavra melhor): então tem negros (Sr. Incrível, Super Choque, Nuclear e Nightwing); latinos (Besouro Azul e Voodoo) e lésbica (Batwoman).
Como entre os negros estão alguns dos personagens que, a priori, eu mais gosto, começarei por eles.

Super Choque (Static Shock #1, com Scott McDaniel e John Rozum nos roteiros, e Scott McDaniel nos desenhos)
Virgil Hawkins é um adolescente afroamericano que acaba de se mudar de Dakota para o Harlem novaiorquino. Ele divide o seu tempo entre a escola, um estágio nos laboratórios S.T.A.R. e a vida de combatente do crime como o Static Shock! Na verdade, o genial Virgil foi plantado dentro da S.T.A.R. pelo herói Hardware, para investigar a fundação de dentro.

Taí uma HQ que eu estava abarrotado de expectativas - é um personagem legal, com algumas histórias pré-reboot legais e um desenho animado muito legal. Claro, tudo isso sob o comando ou com a participação de seu criador, Dwayne McDuffie. Só que o cara morreu antes do recauchute. Houve um troca troca de autores e John Rozum assumiu os roteiros, se dizendo "sintonizado" ao plano de McDuffie. Sei. Acabou errando a estação e ficando no chiado.
Enfim, o gibi é fraco. A arte de McDaniel está mais dolorosa do que nunca, do que quando desenhava o Arqueiro Verde ou o Robin. Simplesmente intragável. Static em seu número de estréia não arranca simpatia do público, é um herói sem propósito, sem alma. A subtrama que é plantada ali (de que ele é um agente infiltrado a serviço do Hardware) não cola, não instiga. O final do gibi, com a mutilação do personagem principal, mexe muito mais com o leitor por se tratar do protagonista do que por empatia por ele.
E o próximo número? Talvez, pra fazer caridade.

Batwing (Batwing #1, Judd Winick nos roteiros e Ben Oliver nos desenhos)
David Zavimbe é um agente do departamento de polícia de Tinasha. Em meio ao caos de extrema violência que perturba os grandes centros urbanos do continente africano, ele tenta colocar alguma ordem em tudo, orientado por ninguém menos que o próprio Batman!
Batwing foi uma surpresa. Um personagem de quinquagésima categoria, feito para ser só mais uma sombra do Bátema... Tinha tudo pra dar errado, né? Mas não é que surpreende?

Não, Batwing não é um clássico absoluto, mas é uma boa história. É um Judd Winick típico, mas do bem: clichês e mais clichês amarrados naquele arroz com feijão até bem feito, que te prende, entretém e pronto. Mesmo porque quando esse infeliz tenta ser memorável (socos na realidade-de-de!), ninguém merece. O desenho de Ben Oliver é bom, bem bacana mesmo, ainda que de fato os cenários só surjam quando extremamente necessários. Interessante é que, diferente de Super Choque, a mutilação (ao menos aparente) de David Zavimbe não só é mais emocionante como serve melhor à trama, está menos gratuita. É firme o suficiente para você ficar instigado pelo próximo número.
E o próximo número? Uai, sim, por que não?

Sr. Incrível (Mr. Terrific #1, Eric Wallace nos roteiros e Gianluca Gugliota na arte)
O terceiro homem mais inteligente do planeta - é assim que Michael Holt define a si e ao seu alter-ego, o Sr. Incrível. Uma espécie de agente secreto da ciência, Holt precisou passar por um grande trauma, a perda de sua esposa, para colocar toda a sua vida e seus feitos em perspectiva e tomar um novo rumo. De um quartel-general abrigado na 9ª Dimensão, ele tenta melhorar o mundo tanto como Michael Holt, o cientista, quanto como Sr. Incrível, o super-herói.

Cara, o Sr. Incrível é um personagem que eu gosto bastante. Acho bacana aquele jeitão frio dele, de quem tem certeza e decidiu não se envolver com mais nada depois de ter perdido tudo. Entretanto, o personagem é muito diferente do Batman, por exemplo - enquanto Holt é comandado por um ceticismo quase pessimista, Bruce Wayne escolheu sacrificar tudo pela missão que evocou para si. Eric Wallace não soube captar essa diferença, e nesse primeiro número o Sr. Incrível está mais Batman do que nunca. Os desenhos de Gianluca não ajudam, são caricatos demais, irregulares e óbvios demais. Falta pesquisa, falta dedicação. Como ponto positivo, a HQ foi a que trouxe o plot de vilão mais interessante do grupo dos nigga.
E o próximo número? Talvez, pra fazer caridade!

Nuclear (The Fury of Firestorm: The Nuclear Men #1. Gail Simone e Ethan Van Sciver nos roteiros, com Yildiray Cinar nos desenhos)
Um grupo de mercenários está rodando o mundo atrás do legado do professor Stein, os protocolos Nuclear (the Firestorm Protocol). Eles acabam chegando até a escola onde Ronnie Raymond e Jason Rusch estudam, sabendo que este último carrega consigo uma importante parte dos achados do professor.
Cara, junte uma equipe criativa bem ruinzinha, um personagem que nasceu para a segunda divisão (é um ótimo coadjuvante, mas quase sempre um fraco protagonista) e o que temos? A PÉOR revista envolvendo heróis negros do relanche. Grupo de mercenários maus como pica-paus, vestindo preto e sexy-style? Sim. Uma trama de conspiração barata? Sim. Personagens que se detestam mas que terão de atuar juntos? Sim. Pessoas usando poderes recém-descobertos como se os tivessem há anos? Sim. Briga sem motivo entre os heróis? Siiiiiiiim.

The Fury of Firestorm é uma merda. Roteiro ruim, diálogos ruins, desenhos de doer (porra, parece fanzine na pior acepção da palavra)... Enfim, uma bomba... nuclear!
E o próximo número? Ah não, obrigado. Tá pensando que minha coleção é bagunça?
No balanço geral, a coisa para os afros não está boa entre os novos 52. Nenhum, repito, NENHUM dos títulos é memorável - o melhor deles é divertido e interessante, e só (Batwing). Ao mesmo tempo, fica evidente como os autores estão trabalhando com um tema que não dominam. Sendo a exceção o próprio Batwing (e nem dava pra ser muito diferente) todos precisam afirmar a negritude, destacar a diferença entre negros e brancos para dar alguma relevância ao tema. Tanto em Nuclear, quanto no Static ou no Sr. Incrível há algum diálogo ou cena feito especificamente para te lembrar que aquele é um personagem negro, que é um personagem negro de verdade - seja lá o que isso quer dizer - ou seja: ele mora no gueto, ele é desvalido, ele nunca vai ser igual aos brancos. O nome disso é estereotipia. E isso é chato. Chato pra cagalho. A deusa loira de vestido azul e luvas brancas na HQ do Sr. Incrível destoa, a entrevista entre Jason Rusch e Ronnie Raymond não faz sentido e é muito forçada para ter peso. Parabéns a Judd Winick, autor da única HQ que se esforçou para fugir do óbvio. E ainda que não exatamente ilesa, conseguiu.
No próximo post: latinos e lésbicas (não necessariamente nessa mesma ordem!)
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