O reboot da DC segue fazendo um puta sucesso e sendo comentado mesmo depois de sua estreia. Mas as polêmicas em relação a certas escolhas é o que tem levantado discussão ao invés da iniciativa em si.
Todo mundo consegue entender o objetivo desse relaunch da DC (gostando ou não): conquistar novos leitores, já que o mercado de quadrinhos americano anda em declínio há um bom tempo. Mas ao que tudo indica, não são só a simplificação das histórias, novos nºs 1 (lá um novo nº1 indica que a pessoa pode começar a ler a partir daquele momento sem nenhum conhecimento prévio) ou a categorização das histórias por "gêneros" os artifícios que a DC está usando para alavancar novos leitores. Cenas picantes e uma Estelar "liberal" também estão na pauta.
Bom, considerações à parte, a autora de fantasia Michele Lee, que é fã da Estelar (nem sabia que essa heroína tinha fãs, mas se existe até fã do Robin o/) decidiu fazer um experimento: Deixou a filha de 7 anos ler a primeira edição de Red Hood and the Outlaws para comparar as duas personagens.
O que ela pensa da antiga Estelar:
Ela é como eu. É uma alienígena nova num planeta e nem sempre diz a coisa certa, ou sabe a coisa certa a fazer. Mas ela é uma boa amiga e ajuda as pessoas. Ela é forte o bastante para lutar contra os bandidos, mesmo quando eles a machucam. Mesmo sua irmã tentou mata-la, mas ela ainda luta pelo lado bom. E ela ajuda outros heróis, como Superboy e Robin e Ravena. Ela é esperta também. E às vezes ela fica muito brava, mas tudo bem, porque não tem problema ficar brava quando as pessoas estão sendo malvadas. E ela é bonita!"
E o que ela achou da nova Estelar:
Eu posso ver quase tudo dos seus seios. Bom, ela está na praia de bikini. Mas...Ela não está relaxando ou nadando, só posando um monte. Ela não está lutando mais. E não fala com quase ninguém na verdade. Ela só está quase pelada e posando".
Quando a menina foi questionada sobre se a nova Estelar era uma boa heroína, ela responde:
Não muito.
Tem mais sobre as opiniões da menina no site da (mãe) autora.
Bom, precisamos fazer uma distinção aqui: Red Hood and the Outlaws realmente não é uma HQ para crianças, pois é inclusive rotulada para maiores de 12 anos na capa. Mas notem uma coisa curiosa: Estelar sempre andou com pouca roupa nos quadrinhos, mas só na versão do Relaunch isto saltou aos olhos da menina. Porque? Bom, considerando que não houve nenhuma influência direta da mãe nas respostas, é fácil identificar o motivo: Estelar tinha PERSONALIDADE, algo que faz qualquer um (até uma criança) se identificar. Obviamente, o fato da história ter (ou não) conteúdo também ajuda, claro.
Isso me lembrou de algo que eu ouvi do Sidney Gusman lá na Multiverso Comic Con: O Brasil é praticamente o único país que forma leitores a partir da infância atualmente. E se você não começa a ler quadrinhos quando criança, você pode começar a ler quando adolescente (conheço muita gente que o fez) ou até quando adulto, mas é muito mais fácil essa pessoa deixar de ler quadrinhos rapidamente em detrimento de outras mídias. E o fato é que (como o Sidão mesmo frisa sempre), diferente das HQs, leitores de quadrinhos morrem e NÃO VOLTAM. E eventualmente, os leitores velhos vão acabar.
Os quadrinhos americanos nunca se renovaram, apenas amadureceram junto com os seus leitores ao longo das décadas. Mas, quando amadureceram, esqueceram do público que tornou os super-heróis populares em primeiro lugar: as crianças.
Vale lembrar que, mesmo que hoje se tenha uma mentalidade diferente sobre os quadrinhos, o senso comum ainda é de que quadrinhos é coisa para criança (e super-herói é mesmo um conceito infantil - mas de forma alguma isso é depreciativo), então eventualmente uma criança VAI ler uma HQ desse relaunch, MESMO com os avisos na capa sobre classificação etária.
E definitivamente não é mostrando peitos, bundas e cenas de sexo que o mercado vai convencer os leitores de que quadrinhos podem ser coisa para adulto. Só vai mostrar o quanto os quadrinhos de super-heróis são babacas.
O que, hoje em dia, são mesmo.
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