
Dá pra acreditar que eu fui até Curitiba (terra natal do álbum), mas acabei comprando-o em BHCity mesmo?
O que acontece quando um diretor de teatro especializado no lado mais trash dos palcos franceses se encontra com dois quadrinhistas malucos? Surge um álbum de HQ bizarro, trash, sujo, com sexo e violência em tons de vermelho, preto e branco chamado Vigor Mortis Comics!

Paulo Biscaia, o diretor de teatro (na verdade, teatrólogo, cineasta e professor universitário) provavelmente não sabia onde ia parar quando criou a Cia de Teatro Vigor Mortis. Bem, ele sabia de onde estava começando: do teatro de horror gore (e trash!) do Grand-Guignol francês (o Théâtre du Grand-Guignol - casa de espetáculos e grupo de teatro francês, que durou de 1897 a 1962, e que ficou famoso por suas peças de terror altamente sanguinolentas, com decapitações, eviscerações, desmembramentos e outras coisas do tipo). Sem imaginar, sua Companhia de Teatro cresceu, e segundo críticos locais, hoje é uma das que mais atrai público em Curitiba. Sem imaginar no que ia dar, ele um dia topou com DW Ribatski, quadrinhista autoral, orgânico, e que ilustrou algumas coisas para dois espetáculos da Companhia - Morgue Story e Graphic.
Estava estabelecido o elo formal que ligaria a Vigor Mortis aos quadrinhos.
Efetivamente, o álbum nasce com a entrada do José Aguiar (de Folheteen), e com uma idéia que, se não é nova mundo afora, até onde eu sei é nova no mundo do quadrinho brasileiro: criar um "universo expandido" para os espetáculos (e filmes) da Cia de Teatro Vigor Mortis.

Com isso, são os personagens das peças de teatro que estrelam as HQ's curtas do álbum. "Gente" como Tom, o cataléptico corretor de seguros, ou Oswald, o zumbi criado por Ana Argento. Ou ainda a ex-atriz pornô Ursula Undress, que estrela uma de minhas histórias favoritas no álbum, "Ursula Unchained".
Como disse antes, o álbum reúne oito HQ's curtas que expandem o universo criado pela Vigor Mortis (o grupo de teatro). Os personagens deixam os palcos e passam para os quadrinhos, interagem entre si (apesar de saídos de peças diferentes) e intercomunicam-se através das histórias - o que acaba gerando um efeito interessante de universo mesmo.
Pelo que eu entendi, o papel do Biscaia foi muito mais fornecer os personagens e os plots dos argumentos, cabendo a José Aguiar e DW Ribatski cuidar e desenvolver as histórias em si - cada um assina quatro das HQ's.

Apesar de interessante, essa divisão é, pra mim, o ponto fraco do álbum. Na verdade, não a divisão em si - questão de gosto, eu queria ver mais José Aguiar e menos DW Ribatski: sua arte suja, borrada, "orgânica", pode agradar a poucas pessoas. Não me agrada. É confusa, feia... às vezes soa preguiçosa (e nojenta também, mas aí é intencional - e muito eficaz -, como em "Oswald apaixonado"). A perseguição de carros da página 39, desenhada pelo autor ("Freddy in Wonderland") é de doer. Talvez nós tivéssemos resultados MUITO mais interessantes se ao invés de desenhar, o DW arte-finalizasse de uma maneira mais livre a arte do Zé Aguiar. Aí sim!
Isso não detona o álbum - só tira um pouquinho da graça dele. Graça esta que está nas boas histórias, mesmo aquelas que menos se espera que sejam boas, como quando o universo dos super-heróis invade o álbum através de Artie (o nerd mau desenhista padrão) e seu Homem Sombra. Isso sem falar na já citada "Ursula Unchained", feita toda em quadros fechados, closes claustrofóbicos muito bem sacados.

No fim, Vigor Mortis Comics é um álbum bem bacana. É uma iniciativa nova, capaz de colocar a gente se coçando de vontade de ver as peças do grupo (ou o filme. Libera o DVD aí, Rodney!), mesmo pessoas como eu, que não curtem muito o clima trash/gore da parada. Pra quem já gosta então... é um prato cheio.
Vigor Mortis Comics, de Paulo Biscaia Filho, José Aguiar e DW Ribatski. Zarabatana Books, 112 páginas. R$ 30,00.
Nota: 8
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