
como é que isso tudo começou..."
(tá, eu sei que a citação não é de rock. Mas vai na onda que ficou legal.)
Lançado pela Conrad, O Pequeno Livro do Rock narra, numa colagem quase aleatória de pequenas figurinhas, a história do rock 'n' roll no mundo. Quer dizer, por "no mundo" entenda Estados Unidos, Inglaterra e França (!?). Outros países acabam dando sua contribuição em algum momento (até o Brasil!) mas são principalmente estes três.

Por que é "uma colagem quase aleatória de pequenas figurinhas"? Porque é justamente isso que o autor, Hervé Bourhis, se propõe a fazer: em pouco menos de 224 páginas, o autor aponta, como flashs, fatos do rock e de suas estrelas. Abro numa página aleatoriamente: é 1994, e Bourhis nos conta:
Suicídio de Kurt Cobain, morto aos 27 anos, como Jimi Hendrix, Jim Morrison e Janis Joplin.
"Agora ele partiu e se juntou a esse clube estúpido. Eu tinha dito a ele para não fazer parte disso." Wendy O'Connor, sua mãe.

Basicamente isso. O álbum de Bourhis não é de histórias em quadrinhos (ainda que conte fatos históricos dentro de quadradinhos - quase sempre), é muito mais um almanaque ilustrado em preto e branco. E num estilo bem legal, bem solto, que, confesso, foi das coisas que me atraiu ao trabalho.
No curso da leitura, a gente (pelo menos eu, que sou muito mais ligado em música nacional) se perde algumas (muitas vezes). Isso fez com que eu me propusesse a cada vez que aparecesse um artista ou banda que eu não conhecesse, fazer uma rápida busca no Google. Desisti na segunda página!

No final das contas, O Pequeno Livro do Rock é muito mais divertido se você sabe do que ele está falando. Ainda que em passagens relâmpago, eu me diverti mais quando o Queen, o T-Rex, o Elvis ou os Beatles apareceram do que nas trocentas aparições dos Kinks, por exemplo. No mais, é um álbum curioso e divertido de se ter na estante, de fornecer curiosidades para uma conversa na mesa de boteco.
Ou seria, se não fosse a edição nacional.
Veja bem: a Conrad é uma boa editora. Eu serei o último leitor do mundo a criticá-los, principalmente tendo em vista a série de álbuns do Calvin, por exemplo, que eles publicam semestralmente com primor. Mas é preciso dizer que, na adaptação do Pequeno Livro do Rock eles cagaram feio!

O troço já começa mal na primeira página de ilustrações: encavalados com as imagens, os textos perdem pedaços e ficam difíceis de ler - para se ter uma idéia, em 1922 Bourhis narra: "A cantor/ de blue/ Trixie Smit/ é a primeira/ gravar as palavra/ 'rock' e 'roll' na cançã/ 'My Baby Rocks Me wit/ One Steady Roll'/" (as barras mostram onde a imagem se sobrepõe ao texto. Para não ser injusto, eu até procurei na importadora do Ultra a edição original em francês, para ver se o encavalamento era intencional mas...
... não é! Numa página qualquer (o álbum não tem paginação para fazer referência), na "Top Battle" entre Fontaine e Gainsbourg, chega-se ao absurdo de existir uma nota do tradutor referente a um trecho que NÃO EXISTE na página, que foi cortado! Ah, Conrad, pelo amor de deus!

Outra coisa: alguém sabe me dizer quem foi que falou para a Conrad que o inglês é o segundo idioma deste nosso país? Caçamba, por que os trechos de letras de música em francês são traduzidos no rodapé e os em inglês não? Pode reclamar, pode dizer que todo mundo praticamente hoje em dia lê em inglês, mas peraê, que porra é essa, mermão? Eu leio pelo método nórdico, e se tiveram o trabalho de colocar notas traduzidas das frases em francês, deveriam colocar para as em inglês também! Que estupidez!
Em resumo, "O pequeno livro do rock" é o pior trabalho da Conrad que eu já vi. E se, por si só, o livro já se sustenta com alguma dificuldade, tendo a Conrad empurrando-o mais lama adentro ainda, o enterro será sem choro nem vela...
O Pequeno Livro do Rock (Le petit livre rock), de Hervé Bourhis, 224 páginas, preto e branco. Editora Conrad, 2010. R$ 45,00 (aproximadamente).
Nota: 4
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