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A Gente Vimos: Homem de Ferro 3 por Corto

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Homem de Ferro 3 - 2

Ou… nunca deixe um nerd esperando no telhado na Noite do Ano-Novo.

SPOILERS ABAIXO

Em Homem de Ferro 3 um Tony Stark (Robert Downey Jr.) que agora vive com Pepper Potts (Gwyneth Paltrow) está em constante crise de ansiedade após todos os acontecimentos de Os Vingadores e tem que confrontar um terrorista oriental que usa a mídia para amedrontar os EUA, se autointitulando Mandarim (Ben Kingsley), o qual está sendo perseguido mundo afora por James Rhodes (Don Cheadle), que alterou seu nome de Máquina de Combate para Patriota de Ferro. Logo Stark descobrirá que os segredos do Mandarim envolvem pessoas que conheceu muito tempo atrás como a bióloga Maya (Rebecca Hall) e o cientista Aldrich Killian (Guy Pearce), além da perigosíssima tecnologia Extremis.

Como o pessoal adora postar receitas na internet eu fiquei pensando que uma boa descrição de Homem de Ferro 3 seria assim. Tipo: coloque altas doses de Robert Downey Jr. em fogo alto, acrescente um molho de O Cavaleiro das Trevas Ressurge sobre um recheio de Máquina Mortífera, adicione um tempero de Homem de Ferro 1 e 2 com uma pitada de Batman Eternamente, ponha tudo no forno e adicione uma cobertura de Beijos e Tiros. Voi lá. Só tome cuidado pra massa dos quadrinhos não desandar porque o resultado pode deixar o sabor meio azedo.

Homem de Ferro 3 dessa vez é dirigido por Shane Black, roteirista da cinessérie Máquina Mortífera e diretor de Beijos e Tiros – filme estrelado por Downey Jr. – com o ex-diretor John Favreau reprisando seu papel de Happy Hogan, o segurança de Tony Stark, que até ganha mais tempo de cena. Acontece que por mais que Shane Black seja um roteirista talentoso ele tem um problema sério como diretor. Seu timing narrativo é cheio de defeitos. Isso faz com que a primeira metade do longa metragem seja muito ruim, desde um prólogo insignificante até diversas situações sem o menor sentido (“Alô, seu terrorista. Minha casa fica na rua tal, esquina tal. Minha mulher, que eu jurei proteger, estará esperando pra recepcionar seus mísseis.”) cujo único propósito é estabelecer uma ligação entre Stark e as artimanhas do vilão. Salva-se uma metade final regada a ação desenfreada e algumas idéias criativas.

Quase tudo é focado na persona construída por Robert Downey Jr. e o projeto é arquitetado pra ele brilhar, inclusive retratando o personagem como vítima de stress pós-traumático após o clímax de Os Vingadores e repetindo a narrativa irônica em primeira pessoa de Beijos e Tiros. Mas o roteiro em geral não colabora e ainda ofusca esse brilho. Em diversos momentos, como nas ações solitárias do Tony ou na excelente e elaboradíssima batalha final em alto-mar, muito superior aos combates decisivos de Homem de Ferro 1 e 2, eu me senti assistindo um novo Máquina Mortífera. Esse conflito final mesmo tem vários instantes que remetem a Máquina Mortífera 2 e 3 principalmente. Infelizmente Shane Black não é Richard Donner, diretor com quem trabalhou na franquia.

A trilogia Homem de Ferro é uma espécie de versão do Marvel Studius para a trilogia Cavaleiro das Trevas de Christopher Nolan. Basta comparar com 007 – Operação Skyfall, onde o Sam Mendes admite abertamente a inspiração, e ver que os filmes do Homem de Ferro tem tanto ou mais em comum com os filmes do Batman. No primeiro longa metragem a estrutura narrativa era idêntica ao Batman Begins, o segundo tentou orquestrar uma situação envolvendo um grande vilão como em Batman – Cavaleiro das Trevas, mas terminou sendo bem diferente e o mais fraco da série. Lembro que antes disso Downey Jr. deu uma entrevista falando que não gostava do final de Cavaleiro das Trevas porque não entendia porque o herói tinha que virar vilão diante da opinião pública… claro, pois se isso ocorresse com o Homem de Ferro arruinaria toda a graça do personagem superstar Tony Stark.

E nesse terceiro mais uma vez tentam alinhavar as sequências dramáticas de Stark com as do Bruce Wayne de Christian Bale em Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge. Os dois estão traumatizados com o passado, os dois formam um vínculo com um jovem órfão (Sim! O Homem de Ferro agora tem um Robin!), os dois sofrem uma derrota na metade da história e são atirados em algum lugar fora da ação, os dois enfrentam ameaças que são na verdade situações mal resolvidas de anos atrás e os dois encontram a “cura” para um probelma estabelecido na origem dos personagens nos primeiros filmes.

Aí entra o que eu mencionei sobre a falta de timing do Black. Ele apresenta o desenrolar do conflito na hora errada. Um exemplo é essa “cura” no final que tinha um forte valor psicológico em Batman e no Homem de Ferro é resolvida numa sequência broxante de menos de 10 segundos. Isso se repete em outros momentos. Sendo que era um ponto ESSENCIAL no personagem Homem de Ferro nos dois longas anteriores. A instigante subtrama envolvendo o vice-presidente, por exemplo, tinha tudo pra ser o ponto alto da história e foi retumbantemente ignorada, talvez pra não chamar mais atenção que tudo que envolvesse Downey Jr. (Palavra que se tivessem coragem de ter posto o cara falando “Eu não fiz isso pelo meu país, eu fiz pela minha filha!” eu aplaudiria esse filme!)

Outro problema grave é que a tecnologia Extremis vai ser dura de algumas pessoas engolirem. Não dá pra entender, por exemplo, como exatamente os caras morrem já que eles sempre sobrevivem a uma explosão pra morrer na seguinte. Ela é bem explicada no mesmo nível em que a personagem de sua criadora Maya Hansen, personagem da linda Rebecca Hall, tem importância pro roteiro. E ela é ficou completamente jogada ali. Melhor sorte teve a Pepper da Gwyneth Paltrow, a única que teve permissão pra roubar (um pouco) a cena do Tony. Já o Rhodes do Don Cheadle só faz figuração e só não morre porque é personagem fixo da franquia.

A confusão envolvendo a identidade do Mandarim vem causando polêmica com os fãs, mas eu acredito que foi uma forma inteligente de apresentar o conceito do vilão pro mundo atual. Lembrem-se que Stan Lee criou todos os vilões clássicos do Homem de Ferro fortemente influenciado pela Guerra Fria, portanto eles já nasceram datados. No fim, o que você assiste ali é uma mistura do Mandarim com o Fing Fang Foom (as tatuagens de dragão pelo corpo e aquela “cuspida” de fogo totalmente desnecessária foram exatamente pra deixar isso claro) ambos repaginados para o mundo atual.

Foi insensato fazer isso com um dos membros mais importantes do elenco da HQ Homem de Ferro? Foi. Mas também seria igualmente insensato colocar um chinês malvadão contra um playboy norte-americano de bom coração. Observando bem, eles praticamente reciclaram a trama do primeiro Homem de Ferro, envolvendo o personagem do Jeff Bridges, acrescentando na jogada um sujeito que desempenha a mesma função que o personagem do Sam Rockwell no segundo.

Se Ben Kingsley pode não agradar muito, Guy Pearce está ótimo, completamente à vontade no papel, tanto no início (quando ele está IDÊNTICO ao Charada do Jim Carrey) quanto no correr do longa metragem até o final. Lamentável que seu Aldrich Killian periga entrar pra história da sétima arte como a pior motivação de todos os tempos pra alguém se vingar de alguém. Admita! Você ficou aguardando que tivesse algo por trás das suas ações, além daquele prólogo mequetrefe. Mas não tinha. Imagina que você está no seu momento de poder máximo derrotando um dos maiores heróis da Terra e a única que vem à sua mente é… FALAR SOBRE O MALDITO DIA EM QUE O CARA TE DEIXOU ESPERANDO NO TELHADO!

E não adianta tentar buscar outra motivação, porque tanto a narração do prólogo quanto a frase na batalha final deixam claro que ele ficou alimentando aquele rancor por anos. É um novo nível de loser. Seria o mesmo que alguém levar um bolo de um conhecido e fazer disso sua motivação pra financiar uma tecnologia homicida e suicida, fabricar um falso terrorista na TV, sequestrar a Dilma e amarrar ela num petroleiro com os dizeres OS ROYALTIES SÃO NOSSOS. Ou talvez o Killian fosse gay e tive uma paixão platônica pelo Stark – o que de quebra explicaria porque ele matou a gooorrrda da Maya Hansen, mas deixou o Rhodes vivo após despi-lo (ui!) de seu traje metálico!

No fim Homem de Ferro 3 seria melhor se fosse mais enxuto, com menos tempo de duração e mais foco nas sequências de ação, porém garante bons momentos de entretenimento também por alguns momentos de inspiração de Downey Jr. e demais do elenco. É melhor que o Homem de Ferro 2, mas bem abaixo do 1. Caso você não durma como um conhecido cientista da Marvel, vai curtir. Não é muito relevante como filme, mas apresenta com competência mais um episódio da Marvel no cinema. E esse é o problema. Essa sensação de que a história é descartável quando se olha o todo. O epílogo deixa claro que nada definitivo ocorreu na vida de Tony e parece que assistimos mais um episódio de uma série de TV que apenas prepara pro final da temporada, que seria Os Vingadores 2.

Isso é um erro. Essa padronização insípida depõe contra anos de tradição da Marvel Comics em sacudir os alicerces justamente dos padrões engessados dos super-heróis, independente da mídia. Além disso, ao mesmo tempo em que eu procuro separar e não julgar tudo como uma mera adaptação da Nona Arte - pensando unicamente como fã, no caso do Mandarim a nota seria muito menor - também tenho que constatar que Homem de Ferro 3 não acrescentou NADA ao gênero dentro da ótica da Sétima Arte. Pelo bem dos super-heróis no Cinema eu espero que os próximos longa-metragens do Marvel Studius fujam dessa esquematização e procurem alçar vôos mais ambiciosos.

NOTA: 6,7.

OBSERVAÇÃO: Por engano essa crítica foi publicada incompleta na sexta por mim (Eu Erro!) durante alguns segundos. Ainda assim alguns viram a tempo e perceberão que eu tirei 3 décimos na nota original. Isso foi porque tive mais tempo de refletir sobre o significado do epílogo do filme, o que me levou a acrescentar esse último parágrafo.


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