Tem um ditado que diz que vergonha é roubar e não levar… esse poderia ser muito bem o lema dessa turma…
SPOILERS ABAIXO
Em Vai Que Dá Certo acompanhamos a história de Rodrigo (Danton Mello), seu primo Danilo (Lucio Mauro Filho) e seus amigos Amaral (Fabio Porchat), Vaguinho (Gregorio Duvivier) e Tonico (Felipe Adib). Todo mundo chegando na casa dos 30 sem ter alcançado as suas metas profissionais. Consequentemente isso lhes trouxe muitos problemas na vida pessoal. Ou seja, tudo um bando de fudido. Todos ainda bastante ligados a um mundo mais simples, de videogame, pelada e uma cervejinha que nunca é a saideira ou discutindo quem é mais foda, Batman ou James Bond, Mario ou Luigi.
É quando Danilo vem com a proposta pra lá de tentadora de embolsarem dinheiro fácil, simulando um sequestro dele próprio e subsequente assalto ao carro-forte onde trabalha. O objetivo é fazer o grupo embolsar 100 mil cada, mais 300 mil pro autor do plano. Parecia fácil. Parecia. Acontece que se esses caras já não davam certo em negócios legais, nos ilegais eles dão mais errado ainda. De uma idéia simples pra faturar uma bolada eles se enrolam cada vez mais em toda sorte de imprevistos que acontecem devido as trapalhadas e inexperiência do grupo, fazendo com que se metam numa roubada atrás da outra envolvendo traficantes, policais corruptos a amiga gostosa Jaqueline (Natália Lage) e o amigo político almofadinha Paulo (Bruno Mazzeo).
Vi algumas pessoas na internet criticando o filme na época que o trailer saiu, como se ele soasse pretensioso demais devido as referências nerds que teriam ficado superficiais. Mas elas são legais exatamente porque a grande maioria dos nerds – e das pessoas em geral – não sabe mesmo que Bros. é abreviatura de Brothers ou que A Pequena Sereia era uma metáfora pra homossexualidade do autor do conto original. O que importa é que os personagens são muito críveis, exceto pelo exagero no sotaque paulista do elenco, composto de vários atores globais. Justiça seja feita: o único que pareceu não força a barrar nesse ponto foi o Bruno Mazzeo. Aliás, uma das grandes sacadas foi a escalação dele no papel do metido da turma, que é a imagem que boa parte do público tem do humorista.
Fora esse detalhe do paulistês artificial, todos estão bem, especialmente Lucio Mauro Filho – num papel bem diferente do que costuma fazer na televisão – e a dupla Fabio Porchat e Gregorio Duvivier – responsáveis pelos momentos mais engraçados do longa metragem que é, de fato, muito engraçado. Se no começo o humor da história é mais ácido, com o diretor Mauricio Farias apontando bem a câmera e as piadas pra vida loser daqueles personagens a história vai cada vez ficando mais interessante à medida em que as situações se tornam mais absurdas, porém sem nunca tirar o pé no chão.
Afinal, quem nunca teve problemas com a ficante/namorada por falta de perspectiva na vida? Quem nunca conheceu alguém que teve uma locadora que foi a falência por causa da internet, ou alguém que teve um primo 171? Quem nunca teve um amigo riquinho almofadinha, uma amiga gostosa, um parente que enchesse a casa de cachorros ou um parente velhinho já meio pancada etc?
Em vez de generalizar, o filme dá credibilidade a esses personagens e suas motivações, mas nunca abre mão desse aspecto crítico pra fazer graça, o que chegou a me incomodar um pouco (o ritmo do humor tava tão gostoso de acompanhar que eu queria que eles embarcassem no nonsense da situação logo de uma vez), mas terminou fazendo sentido. Tanto que quando o personagem do Danton Mello tenta alertar os outros pra eles não cruzarem a linha imaginária entre “Certo” ou “Errado” ninguém mais dá bola pra ele, o que leva o filme a um desfecho inteligente, com um falso final feliz e levanta um questionamento interessante: tudo que eles fizeram foi pra retomar o controle de suas vidas de um destino que julgavam injusto… mas será que esse controle realmente terminou nas mãos deles?
NOTA: 8,5