Foi dada a largada, senhoras e senhores, e o plano de aceleração do crescimento implementado pela Panini em Hellblazer começou!
Em janeiro deste ano, através da Wizzmania, a Panini anunciou que, aporveitando a saída de Hellblazer do plantel do selo Vertigo, tocaria adiante um plano de agilizar a publicação do personagem aqui em Terra Brasilis. “Agilizar como, Sua Sumidade Suína?” pulando da fase (xexelenta) do Mike Carey direto para o elogiado (dizem eles) trabalho de Peter Milligan (que já escreveu Shade, o mutável, Batman, LJA, entre outros) no título.
Nesse pulo, duas fases iriam para o buraco, ou quase: as passagens de Denise Mina e Andy Diggle saem fora do gibi mensal da Vertigo para saírem na forma de encadernados. A Empatia é o Inimigo, de Denise Mina, começa essa onda.
E começa mal, se me permite a franqueza. Mas eu estou me adiantando. Primeiro vamos à sinopse:
Após um encontro casual em um pub londrino, John pega a estrada em direção a Glasgow, na Escócia, onde as taxas de assassinato estão em alta e a dieta mais comum consiste de cigarros, uísque e açúcar – ou seja, uma cidade onde Constantine se sentirá em casa! Mas algo parece diferente agora. John foi amaldiçoado com o pior sentimento que poderia ter: empatia por seus companheiros humanos.
Não há muito tempo para superar isso antes que ele encare o que o espera em Glasgow: um fantasma irritado, uma antiga seita, um mago tão poderoso quanto ele e um horror além da imaginação!
Em A empatia é o Inimigo a (diz a Panini) premiada novelista Denise Mina faz sua estréia nos quadrinhos – e é uma estréia com os dois pés esquerdos.
Isso porque sua trama é rasa e cheia de furos, e ainda que consiga divertir (bem mais ou menos) termina absurdamente irritante. Temos amizades repentinamente fortes demais, uma total falta de noção de tempo – quanto transcorreu entre a chegada de Chris Cole ao bar e o desfecho da trama? Meses? Poucos dias? Gente ambígua, que ora é má como um pica-pau e ora são religiosos arrependidos de uma seita pronta a salvar o mundo e, o pior dos defeitos, o truque sujo, fedido e tão feio quanto espiar a própria irmã tomando banho de inserir um personagem do nada na trama e que, gratuitamente, explica TODOS os mistérios e pontas soltas que você vinha acompanhando! Sim, pelo amor de deus, isso é irritante demais e me deixa desgraçado da cabeça: a autora enrola uma trama por 130 páginas pra, do nada, sacar uma secretária/agente/marchand que explica tudo, tudo, tudinho para o Constantine (e, de tabela, para o leitor) como se fôssemos crianças de 6 anos!
Isso sem falar dos furos, dos rombos de roteiro. Onde foram parar os bons amigos que John fez na companhia de Chris (página 32)? A mulher morta na página 34 foi apenas uma visão? E os praexis? Que fim levaram? E o deus ex machina para não matar John no fim da trama? Aaaaaaaah, santo macarrão!
Na arte, Leonardo Manco, apesar de manco, desenha muito (ok, Nerd Reverso off), mas isso já sabíamos desde a fase com o Carey. Tem uns problemas (o símbolo da ordem monástica, por exemplo, é moderno demais para o século VI), a repetição incessante de variações do quadro Saturno devorando a um filho (Saturno devorando a un hijo), de Goya também irrita. Mas, mas, mas… temos essa capa do Lee Bermejo, que é uma das artes mais lindas que ele já fez pro mago – e olha que o páreo é duro.
No fim, A empatia é o inimigo é um álbum bem abaixo da crítica. E, ao contrário do que possa parecer, foi uma decisão acertada da Panini colocá-lo como encadernado – claro, considerando-se que a ideia é publicar tudo com o personagem, de modo que essa HQ não poderia simplesmente ser ignorada. E digo isso porque, se tivessem feito o contrário, publicado a série dentro da revista mensal… Poutz, iam ser sete meses difíceis de aturar!
Ah, e antes que eu me esqueça, alguém me explica a matemática da Panini? A empatia é o inimigo tem 172 páginas, capa cartonada e custa R$22,90. Orquídea Negra, edição definitiva, tem 180 páginas e custa R$24,90, com capa dura. Vale a velha estratégia de impressão na Indonésia (o caso da Orquídea) e que barateia os custos. A pergunta é: porque então não imprimir tudo lá nos cafundós? A relação entre os preços não cabe!
John Constantine: Hellblazer – A Empatia é o Inimigo. De Denise Mina (roteiro) e Leonardo Manco (arte). Editora Panini, 172 páginas, R$ 22,90.
Nota: 4