Bem, se você tem alguma mulher na sua vida (ou tem Facebook), deve saber que hoje é o Dia Internacional da Mulher. E, já que a linha editorial do MDM é geralmente bastante sexista (pois é um blog feito por homens – embora nem todos sejam heteros RRRRRRRRRRRRRRRRATINHO-OOOOO), acho que uma boa forma de homenagear (de verdade, não as “homenagens” que os leitores costumeiramente fazem) as mulheres neste dia é listar alguns momentos marcantes de personagens femininas marcantes nos quadrinhos. Então taí:
8. Donna Troy
Além de ter passado por muitos perrengues cronológicos (especialmente após Crise Nas Infinitas Terras) e ter mudado de aluna da Mulher Maravilha (como Moça Maravilha) para nada a ver com ela, ter se tornado Troia, depois Darkstar e de por fim ter se tornado irmã meio clone da MM para fatalmente ser sumariamente apagada da existência com o advento dos novos 52, Donna Troy sempre foi uma personagem feminina forte, especialmente após a fase dos Titãs escrita por Marv Wolfman.
Momento Marcante: JLA/Titans: The Tecnis Imperative
Durante uma minissérie crossover com a Liga, membros dos Titãs de diversas épocas são seqüestrados e colocados em uma realidade visual perfeita pelo Cyborg, o que causa uma cisão entre os membros clássicos dos Titãs e seus ex-tutores da Liga da Justiça sobre como proceder com a ameaça. Nesta realidade virtual perfeita, Donna Troy, que perdera o marido e o filho ainda pequeno, se vê com seu filho vivo e podendo estar com ele de novo. Quando Dick Grayson descobre a farsa e sai para remover todos de suas falsas vidas perfeitas, ele chega até Donna para dizer que, por pior que seja para ele dizer isso, aquilo não é real. A surpresa vem quando Donna Troy vira para ele, com lágrimas nos olhos e diz: “Eu sei”.
Por que é marcante:
Eu nunca perdi um filho, e espero nunca perder. Mas qualquer pessoa que já tenha perdido alguém próximo sabe o quanto daria para ter aquela pessoa de volta, mesmo que por um minuto, e como seria difícil aceitar que a visão é, na verdade, uma ilusão. Mesmo tendo sido uma das que mais perdeu entre os Titãs, ela se manteve forte o suficiente para saber que aquilo não era real, enquanto todos os outros se deixaram levar pela ilusão. É preciso muita coragem e muita, mas muita força, para tomar uma atitude dessas.
7. Sue Richards
Bem, polêmicas sobre sua fidelidade à parte, Sue sempre foi uma personagem importante do Universo Marvel para mim, principalmente por que os quadrinhos mainstream contém universos onde é particularmente difícil se manter bem casado por muito tempo. Agora imagina ter que aguentar um cara como Reed Richard que, como todo gênio, tem a ciência como sua “primeira esposa”. Não deve ser fácil.
Momento Marcante: Guerra Civil
Durante um momento crítico do Universo Marvel, onde amigos e famílias estavam sendo destruídas por diferentes ideologias, Sue ficou com Reed o máximo de tempo que pode (ele estava do lado do Homem de Ferro), mas as circunstâncias fizeram-na tomar a difícil decisão de deixar Reed e as crianças e se juntar ao Capitão América na resistência. A sequência em que a narração mostra o conteúdo do bilhete deixado para Reed é, para mim, um dos pontos altos deste período.
Por que é marcante:
Acho que o incidente já fala por si, mas ler a sequência do bilhete, ainda mais com tudo o que estava acontecendo ali, é impactante. Às vezes eu acho que os leitores de quadrinhos não se dão conta da profundidade que Guerra Civil teve, e do quanto a saga representa da realidade. A separação entre Sue e Reed é um ponto essencial para se entender isso, e a decisão de Sue é algo extremamente difícil – ir para o lado dos “subversivos”, deixar sua família e principalmente filhos por conta de algo que acredita. A história está cheia de incidente assim, de ideologias separando pessoas, e aqui Sue Storm mostra uma força moral exemplar.
6. Mulher Maravilha
Talvez a personagem de quadrinhos mais injustiçada pelos membros da indústria, a Mulher Maravilha tem mais de 70 anos e raras vezes foi bem caracterizada, e poucas foram as vezes em que tivemos boas histórias com a personagem. Nem quando colocaram roteiristas mulheres para escrever a personagem funcionou. As raras ocasiões onde temos uma boa representação da Mulher Maravilha acabam sendo histórias alternativas.
Momento Marcante: O Reino do Amanhã
Bem, são nos momentos difíceis que mostramos quem realmente somos. Isso é particularmente verdade no caso dos Super-Heróis, que vivem momentos difíceis o tempo inteiro. Em O Reino do Amanhã, A Mulher Maravilha se encontra (assim como todos os principais personagens) num momento crítico da vida, onde falhou em sua missão de promover a paz e foi rejeitada, tanto pelas suas irmãs amazonas quanto pela humanidade. Numa cena específica, quando há uma rebelião de supereseres na prisão que construíram, o tumulto causa mortes e o Superman não sabe o que fazer. Mulher Maravilha resolve tomar a dianteira e liderar um pessoal para ir até lá resolver a pendenga. Superman pergunta o que vai acontecer se eles se recusarem a cooperar. Mulher Maravilha diz que aí será guerra. Superman diz: “Mas numa guerra pessoas morrem”. Mulher Maravilha apenas olha surpresa para ele, o beija e vai embora.
Por que é marcante:
Acho que toda a personalidade não explorada da Mulher Maravilha em 70 anos de personagem é resumida nesta minissérie. Nesta cena em particular, a ingenuidade do Superman é tamanha que deixa a heroína sem palavras. E ela faz aquilo que o Superman não consegue mais fazer, ou seja, tomar uma decisão com determinação. Esta cena específica para mim representa tudo aquilo que a Mulher Maravilha é – ou deveria ser.
5. Medusa
Uma das maiores criações do rei (não o Roberto Carlos, porra!), os Inumanos sempre foram uma equipe que eu achava interessantíssma, muito embora até onde eu lembro as histórias não fossem nada diferente do resto das histórias da Marvel. Numa época em que eu cagava para a Marvel, Paul Jenkins conseguiu chamar minha atenção de volta com 3 obras: Origem e as minisséries do Sentinela e dos Inumanos. Esta última era particularmente interessante, por que lidava com os personagens de um jeito que eu nunca tinha visto e com uma profundidade que raramente eu via na Marvel naquela época. Todos os personagens me surpreenderam na abordagem de Jenkins, mas definitivamente tenho que dar destaque para a Medusa.
Momento Marcante: Minissérie Inumanos (de Paul Jenkins e Jae Lee)
Bem, como comentei antes, esta minissérie fez pelos personagens o que nenhuma outra história até então tinha feito, pelo menos para mim: trouxe personagens verossímeis e interessantes, cujas motivações, por mais sombrias ou dúbias que fossem, eram compreensíveis. Duas pessoas se destacam por terem que tomar as decisões mais difíceis: Raio Negro, por ser o rei, e Medusa, por ter de apoiar as decisões do marido. Destaque para a sequência em que Medusa deixa que o vilão, irmão do Raio Negro, corte todo o cabelo dela (que é a fonte do poder dela, sua “personalidade”, etc), pois isto faz parte do grande plano da história. Mais do que isso seria entregar desnecessariamente detalhes de uma história que merece ser lida.
Por que é marcante:
Durante a minissérie inteira vemos os personagens, e principalmente o Raio Negro tomando decisões questionáveis em meio a uma guerra. É preciso muita resiliência, força, determinação, e principalmente total confiança e entrega para ajudar a levar a cabo o plano visto na história. E Medusa prova ser a pessoa mais foda entre os inumanos (junto com seu marido, o Raio Negro), e merecedora do seu lugar junto ao rei.
4. Tempestade
Tempestade parece aqueles personagens destinados a serem importantes. Como uma mulher negra (dois aspectos humanos sempre sujeito à preconceitos nos quadrinhos), Tempestade conquistou o devido espaço sem forçada de barra, colocando-se entre os membros mais importantes dos X-men, mais até que alguns membros originais (sim, Anjo, estou falando de você).
Momento marcante: Superaventuras Marvel 72 (no original, Uncanny X-men 169)
Acho que não poderia citar outro momento a não ser este, já que acho que é um divisor de águas na história da personagem. Nesta HQ, o Anjo é capturado pelos Morlocks (é um inútil mesmo) e os X-men precisam ir até os esgotos para resgatá-lo. Esta história é particularmente interessante por que, em dado momento, se percebe que a única forma de vencer os Morlocks é vencer a líder deles, Calisto. Tempestade (que se não me engano liderava os X-men naquela ocasião) mata essa no peito, vence Calisto e se torna líder dos Morlocks.
Por que é marcante:
O que eu comentei no caso da Mulher-Maravilha pode na verdade ser extendido para a grande maioria das personagens femininas de quadrinhos mainstream: É difícil uma história onde vemos mulheres com personalidade verossímil, fortes, e bem caracterizadas. Mais difícil ainda é ter nos comics um personagem negro bem representado. Esta história para mim marca um ponto que define a personagem e proporciona material para as interpretações subsequentes (que infelizmente não foram tão bem aproveitadas nos filmes dos X-men).
3. Oráculo
Durante muito tempo Bárbara Gordon, como Batgirl, foi apenas mais uma na “batfamília”, sem muita evidência a não ser a evidência que toda versão feminina de um personagem na DC costuma receber. Mas tudo isso mudou quando decidiram aposentar a persoangem, o que acabou levando-a a protagonizar uamd as cenas mais trágicas das histórias em quadrinhos quando ela foi aleijada pelo Coringa em A Piada Mortal. E fazer isso acabou se tornando a melhor decisão que a DC poderia ter tomado. Quer dizer, não exatamente a DC, mas John Ostrander (um dos meus autores injustiçados preferidos) e sua esposa, Kim Yale, que não admitiram que a personagem pudesse ter um fim tão trágico e acreditaram firmemente que haviam ainda muitas histórias para contar com uma Bárbara Gordon debilitada, mas não impotente.
Momento marcante: Suicide Squad (Vol. 1) #23
Citei esta revista em específico por que é nela que Oráculo faz sua primeira “aparição” (entre aspas por que não é pessoalmente). Como to fazendo este post meio de cabeça, não lembro em qual das revistas da Liga da Justiça ela foi publicada, mas de qualquer maneira, serve como ponto de partida. Aqui vemos a visão “além do alcance” que o casal Ostrander e Yale tiveram, ao criar uma personagem com limitações físicas (não gosto muito de usar a palavra deficiente, por que não acho que define bem) que acabou se tornando, por muito tempo (até a DC cagar tudo de novo para torná-la “normal”), fundamental para o universo DC como um todo.
Por que é marcante:
Bem, acho que a própria personagem fala por si. Ter nos quadrinhos uma heroína que não se deixou abater pela tragédia e usou isso em seu favor para continuar fazendo o bem é uma grande contribuição para incentivar leitores, jovens ou não, que possuam limitações, a não desistirem de suas vidas e de seus sonhos. Além disso, tirou Bárbara da sombra do Batman e a amadureceu (meio que como o que aconteceu com o Dick ao se tornar Asa Noturna), fazendo-a se tornar uma mulher com muitas habilidades, e principalmente, muito mais interessante do que jamais havia sido. pE uma pena que os Novos 52 cagaram com tudo isso.
2. Estelar
O segundo lugar vai para Estelar (mas não a Estelar pós novos 52, que fique bem claro). Uma personagem infelizmente pouco conhecida do público não leitor de quadrinhos (a única versão conhecida é a patética versão daquele desenho idiota Teen Titans), mas que para mim, junto com Donna Troy, representou muito bem as as mulheres durante os anos 80 e meados de 90.
Momento Marcante: Fase Wolfman/Pérez dos Novos Titãs
Neste período foi onde a Estelar mais brilhou (trocadilho não intencional), provavelmente por ter sido retratada justamente por seus criadores, Marv Wolfman e George Pérez. Estelar era uma alienígena aprendendo sobre nosso planeta, mas teve muito também a ensinar, tanto a seus colegas de equipe (em especial Dick Grayson, por quem se apaixonou perdidamente) quanto aos leitores que apreciavam as histórias dos Novos Titãs na época.
Por que é marcante:
Marv Wolfman foi muito feliz na caracterização de personagens femininas, e nesta lista tenho que dar destaque à Koriander. Embora ela, como a quase totalidade das heroínas de comics (criadas por homens) vestisse pouquíssima roupa e fosse gostosíssima, Wolfman não apelou para o obvio e não fez disso a base da personalidade da personagem. Pelo contrário, isto era apenas parte de uma caracterização muito mais aprofundada, onde Koriander aparecia como uma jovem independente, de personalidade forte, esquentada, à vontade com sua sexualidade e com uma maturidade em relação ao romance que raramente se vê em quadrinhos mainstream (ainda mais em quadrinhos com personagens adolescentes), sem deixar de mostrar, é claro, a fragilidade e muitas vezes ingenuidade da personagem. E a relação dela com Dick foi um dos romances mais bacanas que eu já vi em comics. Talvez essa seja minha marra com o desenho Teen Titans. Esta fase dos Titãs nos quadrinhos fez sucesso justamente por que levou os jovens a sério, e mostrou pessoas verossímeis, ao passo que o desenho foi um “novos titãs para retardados”, tirando tudo aquilo que fez a equipe ser bem sucedida nos quadrinhos.
1. Amanda Waller
Acho que essa lista não tinha como terminar sem colocar em primeiro lugar a mulher mais badass das Hqs. Amanda Waller não é a típica personagem gostosoa das Hqs, não tem poderes, mas sempre colocou medo (e instilou muito ódio) em diversos superseres, muitos deles supervilões, por conta de sua personalidade forte e sua forma de lidar com as coisas. Muito antes de Jack Bauer, Amanda Waller era quem fazia o que tinha que ser feito, independente das consequências. E ela também peitava o Batman, porra! não é para qualquer um.
Momento Marcante: Liga da Justiça 40 (no original, Suicide Squad 39)
Bem, qualquer período da fase do John Ostrander à frente do Esquadrão Suicida poderia figurar aqui como momento marcante, mas escolhi esta história em específico por que ela resume bem a Amanda Waller. Depois que o Esquadrão Suicida (que era uma equipe secreta do governo formada por supervilões) é exposto ao público, Waller ignora ordens superiores, pega um pequeno grupo de vilões e sai à caça de uma gangue que traficava uma droga que tinha em sua mistura coisas vodus que tornava as pessoas zumbis. Após isso, ela se entrega para a polícia e vai presa, por livre e espontânea vontade, para a surpresa dos seus superiores, que não conseguem entender o por que dessa atitude. O motivo é muito claro: o governo precisa dela, e não demora para ela provar que está certa, quando seus ex-superiores e obrigam a tirá-la da cadeia e a reativar o esquadrão Suicida.
Por que é marcante:
Simplesmente por que a manobra da Waller é digna de um Jack Bauer, só que muito melhor. Waller sabe como o sistema funciona, sabe os motivos pelos quais o Esquadrão foi criado, e por que ele foi necessário. No fim das contas, ela sempre teve todo mundo na mão, praticamente um Lex luthor versão feminina (mas que, pelo menos, estava do lado dos mocinhos).
Bom, eu poderia citar outras, mas aí teria que fazer um top 40,5 o que acho que não é o caso. Fico meio triste de não incluir aqui, por exemplo, outras das várias personagens vistas no Esquadrão Suicida do John Ostrander (como Vixen, Magia, Sombra da Noite, etc), mas só essa equipe daria uma post inteiro de mulheres marcantes nos quadrinhos. Enfim, aproveitem para fazer suas pequenas listas nos comentários se quiserem.
Ah, e parabéns às mulheres pelo seu dia!