Caíram na net ontem imagens do Damian, o filho de Bruce Wayne e atual Robin, morto.
O autor Grant Morrison – que anos atrás apresentou o Damian nas histórias do Morcego – deu uma declaração sobre a história no blog da DC, que o site da Veja publicou:
“Eu escolhi criar a minha história em cima do trauma, do assassinato dos pais de Bruce Wayne, algo que pauta a conduta de Batman. Os principais vilões de Bruce são, para mim, baseados em arquétipos de péssimos pais. Esse tema de famílias arruinadas esteve por trás da criação de Damian, o primeiro filho de Batman. De muitas maneiras, a história de Damian Wayne foi a história de Bruce e o seu fim estava planejado há tempos. Afinal, qual filho poderia esperar substituir o pai que nunca morre?“
Geralmente concordo várias coisas que o Grant Morrison diz e acredito mesmo que ele planejou bem toda essa história do Damian desde que considerou que o filho que Bruce e Talia tiveram na HQ O Filho do Demônio realmente existia. Acho que o trabalho dele no Batman muito mais relevante para o personagem do que as histórias do Scott Snyder que neguinho não pára de falar bem o tempo todo.
Mas eu acho que isso foi um retrocesso. Concordo que o Batman/Bruce Wayne nunca pode morrer pra valer – ao menos até que as vendas caíam e a revista seja cancelada como quase ocorreu nos anos 70 – mas por que diabos o Damian TEM que substituir o pai? Dick Grayson – o primeiro filho adotivo do Bruce e primeiro Robin – já cansou de passar por esses dilemas existenciais e os roteiristas desde o Marv Wolfman sempre chegam a conclusão de que ele precisa é seguir seu próprio caminho. O mesmo ocorreu com Barbara Gordon, Jason Todd, Tim Drake, Sthepanie Brown, Cassandra Cain etc. Uma hora eles saíram da sombra do Morcego. Era isso que, imagino, todos os fãs sensatos esperavam que ocorresse com o Damian.
Outra coisa que me faz pensar em retrocesso é essa mania idiota de que os heróis não podem ter filhos. Aliás, d eachar que os heróis não podem ter FAMÍLIA! Foi a mesma palhaçada com o Homem-Aranha na época da pequena May Parker. A existência do Damian – mesmo com a penca de moleques que Bruce levou da rua pra casa – coloca o Batman diante de um aspecto muito interessante. Um cara que não conseguiu superar a morte dos pais tem que aprender a ser um. Simples, eficiente e corajoso diante de uma indústria enferrujada e engessada que cisma em subestimar a inteligência do leitor e teima em não mudar.
E agora, o que vai acontecer? Vamos colocar de novo uma roupa de Robin vazia no cilindro e deixar o Bruce outra vez lamentando sua falha? Perder um filho é algo tão horrível que você não deseja nem a um perosnagem de ficção – me lembro agora do Change falando que não gostava da história da morte do filho do Aquaman. É claro que, acima de qualquer moralismo, o mais importante ali é contar uma história. Só que com essa atitude – a não ser que o Morrison tire outro ás da manga pra conduzir a situação pralgum lugar que seja interessante – o que nós temos é um beco sem saída, uma trava narrativa. Porque recoloca o Batman na mesma condição em que ele estava no tempo em que o Jason Todd estava morto.
E, eu não sei vocês, mas eu achava aquela lamentação toda pelo Jason Todd um grandissíssimo PÉ NO SACO! Sabe por quê? Porque, diferente da morte dos pais de Bruce, não havia como ele REAGIR à morte do Jason. A não ser que, claro, assim como ele se tornou Batman depois da morte dos pais, ele deixasse de ser Batman após a morte do segundo Robin. Frank Miller (quando ainda estava lúcido) foi o primeiro que sacou que esse seria um excelente recurso dramático em The Dark Knight Returns.
Infelizmente no gibi de linha isso é inviável por razões óbvias. Daí vem com aquele papinho de que tal morte “humanizou” o personagem. Esse é o mesmo cinismo presente nos argumentos que defendem a morte da Gwen Stacy. A história da morte dela é fantástica? É. Marcou época? Marcou. Agora me diga o que ela trouxe de bom pro gibi de linha do personagem ou pra sua cronologia? …É o mesmo problema que eu citei, uma espécie de trava narrativa onde o personagem não tem pra onde se desenvolver. Mataram a mocinha e o vilão em um par de histórias, mas a história CONTINUA, PORRA! Inclusive esse aspecto também foi muito bem observado pelo Kurt Busiek no fim de Marvels.
Quando isso aconteceu tiveram que criar um monte de sucessores pro Norman Osborn como Duende Verde e depois substitutos pro próprio Duende Verde, elevaram a Mary Jane a um posto no coração do Peter que naturalmente ela nunca chegaria (Roger Stern já defendeu essa tese, de que eles eram como amigos que casaram e cometeram um erro) dividindo e CONFUNDINDO até hoje a cabeça de fãs do aracnídeo que conhecem o personagem por diferentes mídias… e isso sem contar as sucessivas tentativas de trazer a memória da Gwen de volta com clones, realidades alternativas, filhos bastardos com o arquiinimigo, irmã gêmea malvada etc. – sim, eu sei que ela AINDA não tem uma gêmea malvada, mas acreditem, eles farão isso um dia! – lembrando sempre a Peter Parker como ele falhou com o amor de sua vida e deixando-o preso nesse beco sem saída.
Porque, considerando que o Peter só era Homem-Aranha por uma promessa feita ao Tio Ben no seu leito de morte, pela qual se sentia responsável, a lógica dizia que ele devia deixar de Homem-Aranha por não ter conseguido cumprir a promessa feita ao Capitão Stacy no seu leito de morte, pela qual também se sentia responsável… Era o caminho natural ele deixar de ser Homem-Aranha com a morte da Gwen assim como o Batman de Miller deixou de ser Batman após a morte do Jason. Quando eles começam a se questionar se, na prática, o resultado de suas ações como heróis é bom ou ruim… Nem estou dizendo que essa seria a única alternativa, só estou dizendo que, independente da mídia, toda boa história de ficção tem seu desenrolar, sua noção de começo/meio/fim e suas consequências… Mas era um gibi de linha, uma HQ mensal (ou mais de uma no caso desses personagens mais famosos) que precisa ir pras comics shops todo mês com novas aventuras muito loucas desses mascarados que vão dar o que falar aprontando altas confusões com essa turminha do barulho para toda uma nova geração… e a próxima… e a seguinte… etc. etc. etc.
Daí o status quo dos heróis fica preso nesse limbo dramatúrgico uma ponte de sofrimento que vai do nada pra lugar nenhum… e nós, leitores cansados e velhos de guerra, ficamos presos lá com eles…