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E o Oscar 2013 Vai Para… a Vaidade, a Demagogia, a Incoerência…

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Oscar 2013 2

Argo conta uma história secreta sobre o resgate de um grupo de americanos no Irã pós-revolucionário. A história foi tão secreta que o diretor do filme permanece desconhecido pela Academia”.

Essa sacada brilhante dita pelo apresentador Seth Macfarlane resumiu em boa parte o que foi a octogésima quinta cerimônica de entrega do Oscar ontem, numa noite que ficou marcada pelo tombo da Jennifer Lawrence (colocaram tanto olho gordo que a garota caiu da escada quando foi buscar o prêmio), pela “acompanhante” do Jack Nicholson na apresentação e pelo desentupidor de pia que Sally Field e Macfarlane deram num dos esquetes pré-gravados.

Confira os vencedores abaixo:

Filme: “Argo”
Direção: Ang Lee, por “As Aventuras de Pi”
Ator: Daniel Day-Lewis, “Lincoln”
Atriz: Jennifer Lawrence, “O Lado Bom da Vida”
Ator coadjuvante: Christoph Waltz, “Django Livre”
Atriz coadjuvante: Anne Hathaway, “Os Miseráveis”
Roteiro original: “Django Livre”
Roteiro adaptado: “Argo”
Animação: “Valente”
Filme estrangeiro: “Amor” (Áustria)
Trilha sonora: “As Aventuras de Pi”
Canção original: “Skyfall”, de Adele, “007 – Operação Skyfall”
Fotografia: “As Aventuras de Pi”
Figurino: “Anna Karenina”
Documentário: “Searching for Sugar Man”
Curta de documentário: “Inocente”
Edição: “Argo”
Maquiagem: “Os Miseráveis”
Direção de arte: “Lincoln”
Curta de animação: “Paperman”
Curta-metragem: “Curfew”
Edição de som: empate entre “A Hora Mais Escura” e “007 – Operação Skyfall”
Mixagem de som: “Os Miseráveis”
Efeitos visuais: “As Aventuras de Pi”

Os Vingadores não venceram em Efeitos Visuais. Aliás, isso é o tipo de coisa que me irrita na Academia. Essa coisa querer passar uma imagem “legal” pra todo mundo, convocando o elenco do filme pra apresentar o Oscar de Fotografia. Foi mais ou menos quando chamaram o James Franco pra ser o hosts do Oscar no mesmo ano de 2011 em que ele concorria a Melhor Ator por 127 Horas.

Tipo “Olha, o filme de super-herói não ganhou nada. Mas convidamos eles pra festa pra dar outro prêmio pra outra pessoa. A gente finge que se importa e vocês dão audiência pro prêmio”

A não ser, claro, parte do meio nerd que tem complexo de vira-lata, leva a sério e adora quando recebe essas migalhas de atenção…

Caso igual na cerimônia ontem também ocorreu na homenagem aos filmes da franquia 007 e, no embalo, a cantora Adele levou um merecido Oscar de Canção Original. Mas… desde quando a Academia se importa com o 007? Claro, seus filmes dão muito dinheiro pra indústria e a homenagem é justa porque fazem parte do imaginário popular.

Mas perguntar não ofende: 23 filmes oficiais e mais de 50 anos depois do primeiro, alguma vez nesse tempo todo a Academia se importou em dar ao menos uma indicação aos prêmios principais ou valorizar o trabalho de atores, roteiristas e diretores que passaram pela cinessérie?

Não se engane, essa homenagem foi mais uma oportunidade da Academia tentar alcançar a nova geração de público, sem abrir mão dos preconceitos e tradições da velha geração que ainda rege seus caminhos. E a tentativa mais óbvia nesse sentido foi escolher Seth Macfarlane no mesmo em que lançou seu urso desbocado Ted nos cinemas e ainda dar-lhe liberdade pra ao menos sacanear tudo e todos, incluindo a própria Academia, como pode ser visto na frase que abriu esse post.

Outros momentos de Macfarlane, segundo o site do Globo:


“Bem-vindos ao Oscar. E a missão de hoje é fazer Tommy Lee Jones rir”

Django livre. Esta é uma história de um homem lutando para recuperar sua mulher, que é mantida sob uma violência impensável – ou como Chris Brown e Rihanna chamam, “encontro no cinema”… Além de outras controvérsias, há o uso da palavra “N” (Nigger). Me disseram que o roteiro é baseado nos emails de Mel Gibson“.

Daniel Day-Lewis não é o primeiro ator indicado por interpretar Lincoln. Raymond Massey o interpretou em 1940, no filme “Abe Lincoln em Illinois”. Eu argumentaria, no entanto, que o ator que realmente entrou na cabeça de Lincoln foi John Wilkes Booth.”

John Wilkes Booth foi um ator fanático que assassinou Lincoln num teatro. Depois de receber vaias da platéia o comediante mandou:

“Sério? 150 anos e ainda é muito cedo? Eu tenho algumas piadas sobre Napoleão vindo aí… Vocês vão ficar irados”.

No momento mais surrel da noite, Macfarlane conversou até com o Capitão Kirk! Eu to dizendo que eles capturar o público nerd a qualquer custo… desde que não envolva reconhecer o valor dos filmes de gênero que esse mesmo público curte!

Apesar de surgir com um bom hosts – após anos de procura por um ideal, isso não salva o Oscar desse gostinho de politicagem. Este ano o Oscar de Melhor Ator foi pra um filme (Lincoln), Melhor Ator Coadjuvante pra outro (Django Livre), Melhor Atriz pra outro (O Lado Bom da Vida), Melhor Atriz Coadjuvante pra outro (Os Miseráveis), Melhor Diretor pra outro (As Aventuras de Pi) e quem acabou ganhando o Oscar de Melhor Filme foi ainda um outro (Argo).

[Em tempo: quem merecia ser indicado ao Oscar de Ator Coadjuvante por Django Livre era o Samuel L. Jacson, que compôs um papel inspirado num tipo de personagem clichê dos negros em filmes clássicos ao mesmo tempo em que o criticava. Já Christopher Waltz, bom melhor ator que seja, parecia mais um "Hans Landa do Bem" no filme.]

Pode parecer bonitinho todo mundo sendo premiado etc. e tal… mas quem acompanha sabe que isso não faz nenhum sentido. Só de uns anos pra cá é que começaram a “quebrar” as premiações de Melhor Filme e Melhor Diretor, que costumavam ir pros mesmos projetos. Agora, parece que deu a louca na Academia mesmo.

Além de não darem o prêmio de Melhor Diretor para o responsável pelo Melhor Filme, nem sequer INDICARAM O COITADO DO BEN AFFLECK! E diga-se de passagem, ele ganhou o Globo de Ouro como Diretor! Por que torcer o nariz pro Affleck? Ele pode ser um péssimo ator, mas já provou também ser um baita diretor! Dá mais raiva porque é muito explícto que um filme como Argo tem seu maior mérito justamente na direção.

Estou imaginando os velhinhos da Academia a la Change no podcast se perguntando: “Pois é… será que foi ele mesmo quem dirigiu?”

Sobre os filmes em si, eu acho As Aventuras de Pi melhor do que Argo. E acho Argo mais ou menos do mesmo nível de Lincoln, porém mais correto historicamenteque o diga o povo de Connecticut. Mas os três são ótimos.

Acontece que quando assisti Argo logo achei que ele seria um forte concorrente ao Oscar por retratar uma história onde o Cinema salva a pátria. Hollywood é a grande heroína do longa metragem. E Hollywood é vaidosa até não poder mais. O último Oscar de Melhor Filme também foi pra outra homenagem ao próprio Cinema, O Artista.

Claro que que quando Affleck foi esnobado nas indicações na minha cabeça pelo menos as chances de Argo diminuíram sensivelmente e estava se desenhando uma vitória para As Aventuras de Pi, com a justa vitória do Ang Lee como Melhor Diretor.

Talvez a reposta esteja em comentários pós-premiação pois da cerimônia. Segundo o twitter da Ana Maria Bahiana, George Clooney – um dos produtores de Argo – teria dito:

“Quem diria que um filme sobre o Irã iria ganhar o Oscar?”

Bom… não é bem assim. Argo – que também ganhou o Oscar de Roteiro Adaptado – foi baseado num livro escrito por uma agente da CIA. A história até se passa em boa parte no Irã e de fato ela começa mostrando muito bem as causas da revolução. Mas o foco são os refugiados norte-americanos na embaixada canadense e a própria CIA, tentando tirar seus compatriotas que estavam como estranhos num lugar estranho.

Por outro lado, Ang Lee teria dito que de Aventuras de Pi foi feito em Taiwan, agradecendo à indústria e ao governo locais:

“90% de Pi foi feito lá, com recursos de lá.”

Aliás, olha só a cara malandra do Affleck na hora em que recebeu o abraço do Ang Lee HUAHAUHAUAHA!!!!!!

Claro que tudo isso é cagação de regra minha. Mas o fato é que por qualquer lado que se olhe, seja pelo de As Aventuras de Pi, seja pelo de Argo, o Oscar não teve coerência. E tentar entender as cabeças da Academia a cada ano fica mais difícil. O pessoal da Marvel/Disney que celebrou a não indicação do último Batman do Nolan, não tem o que comemorar, já que o prêmio principal foi pra um filme da Warner. Já o super produtor Harvey Weinstein ficou a ver navios com O Mestre (Ponto pro povo da Cientologia que mostrou sua força em Hollywood), mas enfiou goela abaixo de muita gente a Jennifer Lawrence - impressionante como essa garota divide opiniões (eu gosto bastante dela).No entanto, ao menos dessa vez, perceberam que o fato de o Tom Hooper inovar em algumas coisas não significa que ele seja um bom diretor.

Ah, e se você anda duvida que o Oscar seja um prêmio político, olha só quem apresentou O Melhor Filme direto da Casa Branca:

Veja também:

A Gente Vimos: Argo

A Gente Vimos: As Aventuras de Pi
A Gente Vimos: Django Livre

P.S.: Se você pensou: “Ah, que bom pro Brasil que As Aventuras de Pi não ganhou o Oscar de Melhor Filme porque ele é baseado num livro que foi plágio de uma obra brasileira mimimi…” fique sabendo que isso JÁ ACONTECEU em 1941 quando Rebecca – A Mulher Inesquecível dirigido por Alfred Hitchcock e produzido por David O. Selznick. O filme era baseado no livro homônimo de Daphne du Marier, que por sua vez foi apontado como plágio do livro brasileiro A Sucessora de Carolina Nabuco.

E, diferente do Yan Martel que ressaltou publicamente a importância do trabalho original do Moacyr Scliar, a Daphne nunca reconheceu a “inspiração”.


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