Da série Mitos Cinematográficos: Detona Ralph é mais um filme bom da Pixar.
Na verdade, este mito é parcialmente falso, e demonstrarei isso neste texto, elencando 40,5 motivos junguianos para tanto.
Ok, sem (muita) sacanagem agora, quem acompanha este blog fétido tem visto meu putismo para com Detona Ralph. Desde o primeiro trailer que fiquei eletrizado esperando o filme e ontem, enfim, consegui desentocar a patroa das cobertas e ir conferir esse petardo em homenagem aos old gamers e arcades de outrora.
Então, antes de mais nada, vamos à sinopse de Detona Ralph:
Ralph (John C. Reilly/Tiago Abravanel) é o vilão de Conserta Félix Jr., um popular jogo de fliperama que está completando 30 anos. Apesar de cumprir suas tarefas à perfeição, Ralph gostaria de receber uma atenção maior de Felix Jr. (Jack McBrayer/Rafael Cortez) e os demais habitantes do jogo, que nunca o convidam para festas e nem mesmo o tratam bem. Para provar que merece tamanha atenção, ele promete que voltará ao jogo com uma medalha de herói no peito, no intuito de mostrar seu valor. É o início da peregrinação de Ralph por outros jogos, em busca de um meio de obter sua sonhada medalha.
Daí, a primeira notícia: Detona Ralph NÃO É um filme da Pixar, nem um Disney/Pixar. É só Disney. Tal qual Bolt, o supercão; ou o Galinho Chicken Little e blábláblá. Isso é só mais um mito cinematográfico derrubado, porque muita gente por aí, inclusive um amigo de um amigo meu que gosta de cinema, pensava isso – estão errados. A produção é só da Disney, ainda que conte com a participação de John Lasseter (famoso produtor de longas da Pixar) como produtor, e só.
Mas a confusão tem procedência, sobretudo por dois motivos: um é que Detona Ralph, à moda dos filmes da Pixar, também tem um curta de animação antes do filme principal. No caso, “Avião de papel”, com uma historinha de encontros (e desencontros) fantástica e muito divertida. Falando nele, os personagens tem um character design que me lembrou muito As aventuras de Ichabod e Sr. Sapo, também da Disney, e o ar retrô deu vontade de ver uma animação do Superman (ou do Cap. América) naquele estilo, rememorando mesmo a era Fleischer. Outro motivo para que se pense em Pixar ao ver Detona Ralph é que, se Valente foi o filme mais Disney da Pixar (no mau sentido), então Detona Ralph é o filme mais Pixar da Disney (no bom sentido).
A história tem quase todos os elementos que compõe os longas da Disney: há superação, o poder da amizade verdadeira e até uma lição de moral, mas nada disso é cantado ou explicitado. Do Pixar style vem o inusitado da trama (um vilão de videogame que cansou do ofício), o fantástico (os personagens de fliperama moram num ambiente compartilhado), o humor bem dosado e muitas referências à cultura pop, mais especificamente os games, obviamente. Entretanto, esse talvez seja o maior Pixar mode deste filme: apesar de se passar 80% da história num mundo de doces, Detona Ralph passa longe de ser um filme enjoadinho e meloso como a Disney costuma fazer.
Ralph é um personagem bacana, profundo em sua “rasidade” (lembre-se que ele não passa de um personagem de 8bits) que está passando pela crise dos 30. Ao seu redor, uma série de personagens tão rasos quanto, tão limitados quanto (a cena de Felix Jr. tentando fugir da cadeia é, ainda que previsível, hilária) mas que não tem muita escolha para serem diferentes. Diferente de Toy Story, por exemplo, aqui os personagens são o que são, como se submetidos a um vaticínio, uma sina. Mas, por mais impossível que seja, eles precisam romper com a programação de algum jeito – é o que ensina a irritante Vanellope von Schweetz (Sarah Silverman no original, Marimoon aqui) no final.
Em suma, Detona Ralph tem uma história simples, até bobinha, mas que diverte, ainda mais se você estiver atento aos detalhes – sobretudo os visuais. Dos gráficos ultramodernos do Hero Duty (e sua Coronel durona mas rebolativa), até o hilário movimento “quebrado” dos habitantes de Gentilândia, passando pelo já conhecido grupo de apoio aos vilões anônimos e seu lema. São os pequenos detalhes que, aliados a uma boa dose de saudosismo, fazem de Detona Ralph um filme muito bacana. E que, se comparado à última produção da Pixar (Valente), pode-se dizer que o discípulo superou o mestre.
Antes de encerrar, preciso dizer que nem tudo são flores. Se por um lado tenho de fazer uma mea culpa acerca da dublagem, por outro lado sou obrigado a dizer: “Aham! Eu avisei que ia dar merda, capitão!”. A mea culpa diz respeito a Rafael Cortez. Contra todas as expectativas, seu Felix Jr. é divertido, tem uma voz que encaixa no personagem e tudo funciona bem. O que não se pode dizer da pseudo-VJ Marimoon encarnando a Vanellope. Caceta! A moça achou que tinha baixado a dubladora profissional nela e inventou uma voz confusa, baixa e embolada, conseguindo o mérito de muitas vezes durante o filme ser… Incompreensível! Durante uns dois terços das falas da personagem eu e a patroa nos sentimos como que assistindo Matrix Reloaded outra vez, com aquela cena do Arquiteto em legendas brancas. Coisa de doido. Já Tiago Abravanel, como era de se esperar de alguém que trabalha com a voz, não incomoda e faz um Ralph bacana. Mas também não se destaca, e eu acho que dava pra fazer mais.
Detona Ralph (Wreck-It Ralph). Dirigido por Rich Moore. Disney Studios, Estados Unidos, 2012.
Nota: 7,5