“Nóóóóófa, mas esse Porco é um mongol da Mongólia mesmo! Vai resenhar isso agora?”
Vou sim senhora, é lançamento…
Quando a HQM começou a publicar Os Mortos Vivos, de Robert Kirkman, em 2006, eu caguei pra eles. Tava lá, lendo amarradão meu Invencível (do mesmo Kirkman, pela mesma editora) e histórias de zumbi nunca me deram onda. Deixei de cagar para a série quando a HQM decidiu interromper a publicação de Invencível para priorizar Os Mortos Vivos, aí tomei foi ojeriza da série (a mesma coisa havia acontecido, quando eu era moleque e o Círculo do Livro interrompeu a publicação da Agatha Christie para publicar Sidney Sheldon, mas voltemos ao assunto).
Quando a série estreou, e virou modinha, eu como pseudo-hipster que sou saquei meu ranço guardado e ignorei outra vez. Isso ficou assim até outubro deste ano, na GibiCon. Passando pela gibiteria no evento, me deparei com o primeiro número de The Walking Dead, com os perspicazes dizeres abaixo do título: “A HQ que deu origem ao seriado”. De imediato saquei o lance: assim como reza a lenda que o “Begins” no título do primeiro Bátema do Nolan (#oscortopira) atrapalhou a adesão do público ao filme, é bem provável que a febre The Walking Dead, a série de Tv, não tenha sido relacionada, pelas “massas incultas” à série de encadernados Os Mortos-Vivos. Daí, qual a sacada? Relançar a série utilizando-se do título original, para não existir a mais menor dúvida de que se referem à mesma coisa. É interessante que, como o Triplo Freud disse lá no Uarévaa, a publicação da série, aqui no Brasil, acaba fazendo o caminho inverso de sua contraparte norte-americana: dos encadernados para os gibis mensais.
Claro, além da equalização dos nomes, há um outro pronto que precisa ser abordado, como o Beto Magnum citou lá no Limão Mecânico: na onda da coqueluche televisiva do seriado, há o ganho de inserir no mercado uma série, vendida em bancas, a R$3,90. É bem mais vendável que um material de livraria, não evidentemente relacionado, a R$30 mangos em média. Não que uma série vá substituir a outra, The Walking Dead e Os Mortos-Vivos seguem sendo publicadas paralelamente.
Mas cortando os fatores externos, qual é a do gibi? Por que eu mudei de ideia sobre ele? Respondendo a segunda pergunta primeiro, o que me fez mudar de ideia foi justamente a introdução que Kirkman faz ao trabalho, e que abre a HQ: o lance de TWD não é a carnificina descerebrada e os gritos de “Mioooolos” a cada duas páginas – Kirkman está preocupado em fazer uma boa ficção, e uma boa ficção, pra mim, é aquela que obrigatoriamente usa do elemento fantástico para fazer o leitor/espectador refletir sobre a realidade, sobre o comportamento humano. E isso sim é foda! Por isso eu respondi essa questão primeiro, porque eu precisava desse “pressuposto” para dizer qual é a do gibi. E digo: ainda é o primeiro número. E os primeiros números, de fato, não servem para muita coisa, só para te mostrar quem você deve seguir, no caso Rick Grimes, meu colega de trabalho. E só. Ainda não há dramas humanos ou coisas do tipo, só essa apresentação de personagem, uma visualização, pouco clara, do cenário (que me lembrou muito A Estrada, do Viggo Mortensen) e nada mais. Confesso que ainda não me fisgou, mas quero continuar lendo na esperança dessa promessa feita pelo Kirkman.
Mas confesso também que isso vai ser meio difícil, se depender da HQM. A primeira edição é de outubro, e apesar d’eu a ter comprado em Curitiba, ainda não vi, nas bancas aqui de BHCity, nem o cheiro das outras duas edições – e algumas pessoas com quem conversei, falaram que só há poucas semanas conseguiram pôr as mãos na edição 1. Ou seja: se eu quiser saber como a história caminha, melhor comprar o encadernado (que tem estocado na comicshop daqui), sob o risco de morrer de velhice antes do fim do primeiro arco. Ou seja: parabéns, HQM! Me vendendo uma revista de R$3,90, conseguiram me fazer comprar uma de trintão! Isso que é visão de mercado!
The Walking Dead, a HQ que deu origem ao seriado, de Robert Kirkman e Tony Moore. Editora HQM, 32 páginas, R$ 3,90, tons de cinza.
Nota: 6,5