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Dá pra ficar rico com quadrinho autoral?

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Jim Zub responde!

Provavelmente você nunca ouviu falar desse canadense, o Jim. Roteirista e ilustrador, o cara editou trabalhos no estúdio UDON (que tinha uns lances com uns personagens da CAPCOM) e vem publicando uns quadrinhos, entre eles uma série chamada Skullkickers, pela Image (desde 2010). Aparentemente, a série (que é autoral) trata de um universo de fantasia medieval RPGzístico.

Pois eis que o Jim em seu blog, o Zub Tales, deu recentemente uma detalhada nos custos para a produção de um quadrinho autoral, um pouco para explicar para a mulher dele, para a sogra e para os credores como que, em dois anos publicando por uma grande editora, ele ainda não tem uma casa com piscina, helicóptero e salaminho fatiado com limão. Seu post vem gerando algum burburinho nas interwebs e como, apesar de estarem em dólares os valores, a realidade da coisa não muda muito aqui pro Brasil (e como o refalecido Ultra não pára de me aporrinhar no QG do MdM), resolvi trazer o texto pra cá. É grande, mas não chega a ser um post narrando cronologicamente um filme que você já viu, então respira fundo e vai!

Vamos a ele:

Estou absolutamente encantado por estar trabalhando com quadrinhos. Ainda mais feliz porque um de meus grandes projetos agora é uma série em quadrinhos de minha propriedade – escrever minha criação Skullkickers e sendo publicado pela Image Comics é uma emoção e uma honra.
Uma discussão recente que eu tinha sobre fazer dinheiro em quadrinhos tomou um rumo estranho e percebi que muitas pessoas fazem suposições sobre como o dinheiro vem em rios no negócio dos quadrinhos. Ser publicado não é uma chave de para fama e fortuna imediatas.

Considere uma HQ de preço de capa a U$$ 2,99 (Vamos de U$$ 3, para simplificar):

Menos 1,40 mangos: 40 a 50% do preço de capa fica para os varejistas, o tiozinho da banca que vende os quadrinhos para os leitores. Esta quantidade varia um pouco baseado na editora e no número de exemplares encomendados pelo varejista, mas é uma aproximação de base. Varejistas merecem a sua parte para na venda de histórias em quadrinhos para a base de clientes locais. Eles compram um produto não-retornável e correm riscos com isso.

Menos 0,80 mangos: A impressão é indispensável (e isso varia muito com base na quantidade impressa, disponibilidade e tipo de papel e outros fatores, que acabam fazendo com que este não seja um número exato). Oitenta centavos é uma referência muito boa para tiragens pequenas. Em tiragens muito baixas (menores do que 3000 exemplares), a impressão pode custar mais do que U$$ 1,00 por cópia, o que realmente pesa no orçamento.

Menos 0,50 mangos: 1/6 do preço de capa vai para Diamond, a distribuidora que pega os pedidos dos varejistas e os faz chegar até eles. Esse custo varia de acordo com o transporte, os preços do combustível, quantidade encomendada, entre outros mas é uma boa aproximação. A Diamond merece a sua parcela para receber os pedidos, armazenar e transportar os gibis para as lojas de varejo. Eles são um distribuidor internacional com muitas despesas para manter o sistema funcionando.

Como disse, mesmo com a impressão variando muito, vamos trabalhar com 80 centavos de dólar como um índice válido. Com os restantes 30 centavos por unidade, precisamos pagar as seguintes partes:

• Publicidade/promoção;
• Trabalho editorial/despesas de escritório;
A equipe criativa, para quem nada está pago e;
• Lucro?

Em uma tiragem de 5000 revistas (e muitos, muitos títulos autorais vendem menos do que isso no mercado atual), isso significa que restam U$$ 1.500,00 para as quatro categorias importantes acima. Adivinhar quem chupa o dedo?

Se o custo de publicidade foi ZERO e despesas com editor forem zero, em seguida, o escritor e o artista de uma história em quadrinhos de 20 páginas receberão, cada um, U$$ 37,50 por página. Ops, não há dinheiro para a arte da capa, me desculpe. Adicionar mais pessoas (arte-finalista, colorista, letrista, etc) divide o larjan ainda mais, mas este é um número hipotético. A editora tem despesas e pessoal para pagar.

A realidade é que uma vez que a editora tem sua parte do que resta (e eles absolutamente merecem), não sobra nada, nadica de nada, para a publicidade e para a equipe criativa.

….

Acredite ou não, eu não sou amargo sobre tudo isso. É o preço de fazer negócios na indústria mainstream de quadrinhos através de lojas de varejo e distribuição internacional. É assim que funciona. Eu só quero deixar bem claro para que as pessoas entendam o que quero dizer quando digo que não vou ficar rico fazendo a minha própria revista. Skullkickers é o hobby mais caro que eu já tive.

É por isso que você deve:

• Apoiar títulos autorais;
• Apoiar a propriedade de autor nos quadrinhos;
• Pré-encomendar álbuns que você está interessado em seu revendedor local;
• Divulgar entre seus amigos suas HQ’s favoritas e ajudar a construir o uma rede de consumo.
• Apoiar campanhas crowndfunding para grandes projetos independentes de quadrinhos;
• Comprar direto dos criadores em convenções e eventos, para que 100% do preço de capa vá para o bolso deles.

Negada, e aí? Cara, salvas as devidas proporções, do que eu já apurei de conversas por aí com gente como o Sidney Gusman e alguns autores independentes como Vitor Cafaggi, a coisa por aqui segue mais ou menos o mesmo esquema. Claro que temos de levar em conta as peculiaridades dos mercados (como o sistema de pré-venda, que nós não temos, ou o fato de que no Brasil o encalhe fica com a editora e não com o varejista), mas é evidente que esses pontos que Jim Zub levanta afetam também nosso mercado – não é a toa que temos tantos (bons) quadrinhistas fazendo tudo por conta própria. Dá um trabalho do cão, com certeza, mas o cara sabe que o retorno, no fim das contas, vem pro bolso dele. Claro que nesses casos os caras acabam trabalhando com tiragens bem pequenas, entre 1000 e 2000 exemplares, mas é melhor a tiragem pequena do que ter que enfrentar a máfia da distribuição ou os problemas com livrarias e etc.

Ou sejE: quer ter dinheiro, sucesso, iates, mulheres? Não trata de estudar prum concurso da Mega Sena não, neguinho, pra tu ver onde vai parar…!



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