Houve um tempo em que eu era um assíduo jogador de Vampiro: A Máscara. Ah… Tempos idos…
Tem alguns dias, eu falei que ia rolar o lançamento de Draconian, HQ de André Farias e Paulo Cesar Santos em Sampa City.
Pois que o que eu tinha lido do release do álbum serviu para evocar outra vez memórias daqueles tempos, de Salubris, Malkavianos, Gagrels e tantos outros clãs e coisa do gênero (nota buguimanística: certa feita eu construí um FilhO da Cacofonia. Nunca encontrei um outro jogador que tivesse feito algo parecido!). Foi então com essa expectativa que eu comecei a leitura de Draconian.
O álbum é uma coletânea de histórias curtas sobre vampiros urbanos aparentemente pré-Crepusculares (guarde o “aparentemente”. Voltarei a ele mais adiante). São nove HQ’s, sua maioria contando com roteiro e arte de Paulo Cesar Santos. Nas tramas, vemos se revesarem alguns personagens, que ora voltam, ora são citados, como o trio Lenny, Brad e Francesca, sempre envolvidos nos enredos de alguma forma. Isso é legal porque dá uma sensação de coesão, de um plano maior onde aquelas histórias todas estão acontecendo. Tipo um Tarantino’s mind com sanguessugas.
Paulo Cesar tem um estilo gráfico evidentemente oriundo dos comics, sedimentado e que segura a onda muito bem ao conduzi-lo. Alguns momentos das tramas sua arte aparentemente foi tratada direto no lápis, e o resultado é arrebatador: os flashbacks em “Lenda urbana” e “Sob as luzes da cidade” estão aí para prová-lo. Entretanto, duas coisas me incomodam um pouco no que tange à arte: primeiro, e isso é praticamente um vício do estilo comics como um todo, e não exclusividade do trabalho do Paulo, que é a repetição de um mesmo tipo feminino. Em Draconian temos homem velho e careca, tem gordo, tem saradão… Mas as mulheres são sempre gostosonas, todas elas são perfeitas estrelas de filme pornô. É legal, atrai os olhares, mas diminui a verossimilhança da parada. Outro ponto que me incomoda na arte, refere-se muito mais à arte-final: afinal de contas, os vampiros de Draconian andam somente à noite ou transitam de dia também? Os textos dão uma ou outra indicação de que momento do dia aquela história se passa, mas a arte muitas vezes teima em desmenti-los, dando uma impressão de céu claro com sol a pino. Daí entra o “aparentemente pré-Crepúsculo” que eu usei acima: saber se esses sugadores de sangue podem ou não andar por aí à luz do dia pode ser um fator determinante para dizer se algo pende para Stephenie Meyer ou Anne Rice.
Da mesma forma, nos roteiros Paulo segura muito bem a peteca, e é bacana perceber a sua habilidade em contar histórias curtas que, mesmo interligadas, funcionam perfeitamente e de forma completamente independente (ou quase) umas das outras. É interessante como recuro os retornos inesperados de um ou outro personagem (como quando Wayne volta em “Aberto a noite toda”, gerando uma sensação de “Hey! Eu conheço esse cara!”). Os diálogos algumas vezes ficam pesados demais, didáticos demais, como que precisando ensinar ao leitor de que se trata tudo (O diálogo no carro entre Sidney e Masterson no carro em “Lenda Urbana” é um exemplo disso), mas se isso não matou (de uma vez) a carreira de Chris Claremont, então nada temos a temer.
No fim, num balancete de pRós e contras, Draconian segue sendo um álbum bem interessante, muito bom inclusive para aproximar uma geração já distante dos vampiros clássicos (como Drácula), de uma encarnação menos lépida e faceira dos monstros de presas grandes – justamente aquela encarnação Anne Rice/Mark Rein “bolinha” Hagen, à qual eu me referi na abertura do post. Há muito o que se caminhar, esclarecer, muitas histórias pra contar ainda no universo de Draconian. Potencial pra isso o universo tem, basta afinar um ponto aqui e outro ali, coisas que o próprio álbum evidenciam que os autores tem condição de fazer.
Draconian, de Paulo Cesar Santos e André Farias. Independente. 126 páginas, preto e branco. R$ 30,00.
Nota: 7