Seguindo com os posts das minhas compras da Gibicon, segue-se a resenha de uma obra nacional aclamadíssima (tanto que foi publicada no mercado europeu) e que consolida André Diniz como um dos maiores autores de quadrinhos das últimas décadas.
Embora alguns leitores possam conhecer o nome André Diniz há pouco tempo, o autor já é um veteranos nas Hqs, fazendo histórias desde os anos 90. Mas só na última década, que foi mais acolhedora para os quadrinistas brasileiros, é que ele despontou com destaque entre os grandes nomes que têm elevado o nível das HQs tupiniquins em diversos sentidos. Seu trabalho mais recente, Morro da Favela, foi bastante elogiado e atravessou o mar e foi publicado no mercado europeu. E é desta Hq que falo agora, que foi uma das minhas compras na Gibicon (e que infelizmente não consegui autografado).
Morro da Favela conta a história da primeira favela do Rio de Janeiro, e daquele que deu o nome a todas as outras favelas, hoje conhecida como Morro da Providência, e sobre como um garoto, cujo pai foi um dos pioneiros da boca de fumo na favela, cresceu para desafiar o tráfico através de seu olhar sobre a comunidade. Baseada na vida do fotógrafo Maurício Hora, Morro da Favela traz uma sensibilidade rara de se ver em histórias em quadrinhos, geralmente reservada à obras mais intimistas e autobiográficas. Embora aqui a história não seja “auto”, ela é biográfica, mas não exatamente no sentido de ser sobre a vida de uma pessoa. Até é, mas a verdadeira biografia contada em Morro da Favela é a própria favela, um lugar que cresce com seus moradores, seus problemas, suas felicidades e suas mazelas, mas que continua sempre evoluindo, sempre seguindo em frente.
Em Morro da Favela, a vida de Maurício Hora é narração, mas a vida do morro da providência é a verdadeira biografia. A partir da infância do fotógrafo, somos levados a conhecer um pouco mais sobre os primórdios do tráfico nas favelas, sobre a ascensão da comunidade, sobre os eternos problemas e sobre como um jovem passou a não ter vergonha de ser chamado de “favelado”.
A HQ nos traz, de forma simples, mas tocante, uma história que, verdade seja dita, não é lá tão incomum de se ver na ficção (o cinema e a TV abordaram estes temas à exaustão), mas que não deixa de ter seu toque de originalidade, intensidade e, principalmente, coração.
Como você deve imaginar pelo que escrevi até aqui, eu recomendo demais a leitura de Morro da Favela. Especialmente para aqueles que, como eu, já se cansaram da as histórias de Super-herói e estão buscando leituras com maior ressonância emocional.
Morro da Favela
André Diniz
Fotos de Maurício Hora
Nota: 9,5