Enquanto o Robocop Black Kamen Rider do José Padilha não sai, vamos curtir o clássico oitentista do diretor holandês Paul Verhoeven.
Em um futuro distópico a cidade de Detroit é assolada por uma incontrolável onda de criminalidade, além das baixas condições de vida de seus moradores. A mega-corporação OCP, que passa a ser responsável pela departamento de polícia, planeja um grande projeto de reurbanização destruindo a Velha Detroit e substituindo-a por uma utópica Delta City.
Para combater o crime local a OCP projeta a construção de unidades robóticas. Como todos os testes com o famigerado ED 209 acabam em tragédia um dos executivos, Bob Morton (Miguel Ferrer), consegue autorização para a criação do Projeto Robocop que visava a construção de um ciborgue, meio homem meio máquina, para ser o policial perfeito. Quando o veterano oficial da polícia Alex Murphy (Peter Weller) é emboscado e barbaramente mutilado por uma violenta quadrilha, liderada por Clarence Boddicker (Kurtwood Smith – o vilão preferido do Hell nos anos 80) torna-se a cobaia necessária para a OCP reconstrui-lo como Robocop.
Oficialmente dado como morto para seus parentes e amigos, Murphy converte-se então na máquina perfeita de combate ao crime. Porém, pouco a pouco as memórias de sua vida passada retornam com ajuda de sua antiga parceira Lewis (Nancy Allen), trazendo o mais básico dos conflitos humanos a tona: vingança. Indo contra sua programação robótica, Robocop decide partir atrás da gangue que destruiu sua vida e descobre a ligação dos bandidos com um outro executivo da OCP, o inescrupuloso Dick Jones (Ronny Cox).
Confira abaixo o FILME COMPLETO e dubladão no youtube:
CURIOSIDADES SOBRE OS BASTIDORES DO ROBOCOP E SUAS INSPIRAÇÕES
Paul Verhoeven vinha do sucesso de Conquista Sangrenta – seu primeiro trabalho em Hollywood – mas foi Robocop quem catapultou sua carreira de cineasta possibilitando que o diretor fizesse em sequência dois grandes sucessos nos anos seguintes, O Vingador do Futuro e Instinto Selvagem, só pra depois seguir ladeira abaixo com Showgirls. Inicialmente ele não gostou do que leu no roteiro, mas sua esposa também leu e, convencida de que a trama podia ter substância, o convenceu a trabalhar no longa metragem.
Robocop – O Policial do Futuro é um retrato do estilo cru e impactante de Verhoeven, que não tinha o menor pudor em usar a violência pra chocar o público mas, diferente de muito do que se vê hoje em dia, jamais apelou pra isso de forma gratuita, pelo menos não no caso de Robocop. Toda a sociedade consumista, corrupta e violenta, repleta de modismos midiáticos e regida pelo capitalismo selvagem é cinicamente representada com bastante fôlego nessa fábula de um futuro cada vez vez menos distante da nossa realidade.
Vários temas abordados no filme permanecem atuais, como a violência urbana, a privatização dos serviços públicos, a desumanização das grandes corporações, o poder da imprensa. Diria até que Robocop é um dos filmes mais sintomáticos sobre o mundo globalizado que surgiria a partir do fim do século XX. Além de também abordar um conceito atemporal através da dor de Murphy: o conflito entre homem e máquina.
Rutger Hauer e Arnold Schwarzenegger foram cogitados para o papel do protagonista que acabou ficando com Peter Weller – dizem que o Rutger Hauer já tava de saco cheio de trabalhar com o Verhoeven. Weller conseguia não só transmitir a dor interior do personagem como também se mover com agilidade usando o pesado traje do Policial do Futuro, criado por Rob Bottin, conhecido pelos efeitos especiais dos filmes de John Carpenter. Mesmo assim o ator precisou de um treinamento adicional pra se acostumar e poder se mover conforme o previsto.
Uma curiosidade interessante é que a famosa cena em que o vilão Emil (Paul MacCrane) toma um banho num tonel de lixo tóxico foi uma homenagem explícita de Bottin ao trabalho do famoso maquiador Rick Baker no clássico trash O Incrível Homem que Derreteu.
O visual do Robocop foi parcialmente inspirado em dois heróis dos quadrinhos que faziam sucesso nos anos 80, o Juiz Dredd e o ROM. Inclusive é possível ver os quadrinhos do ROM em dois momentos distintos do longa metragem: durante o roubo de uma loja e no chão ao lado do filho do Murphy, quando o policial se lembra de sua vida passada.
Bottin, Verhoeven e o roteirista Edward Newmeier também se inspiraram em dois heróis japoneses famosos na época: o personagem título do anime O Oitavo Homem – que veja só, era a história de um detetive da polícia transformado em andróide - e o Policial do Espaço Gaban, o primeiro Tokusatsu do gênero Metal Hero produzido pela Toei. Impossível não lembrar que a própria Toei anos depois se inspirou no Robocop pra criar outra série Metal Hero bastante conhecida no Brasil: Jiban – O Policial de Aço. Como o mundo dá voltas, não?
Lançado em 1987, o filme fez bastante sucesso sendo considerado pela crítica uma das melhores produções exibidas nos cinemas daquele ano e gerando toda uma franquia que tornou o Robocop famoso, aparecendo em duas sequências cinematográficas, histórias em quadrinhos e desenho animado. Porém, o filme original foi ao mesmo tempo também foi considerado por alguns como um longa metragem fascista, o que não deixa de ser uma outra ironia já que tanto Verhoeven quanto Neumeier costumam declarar abertamente que são politicamente de esquerda. Neumeier disse que procurou retratar o desemprego e a pobreza nos noticiários do telejornal do filme como alusão a crise da indústria norte-americana do fim dos anos 70/ meados dos anos 80.
Originalmente a produção teve uma classificação etária muito pesada nos EUA. Devido a isso Verhoeven fez pequenos cortes nas cenas de maior violência e acrescentou os comerciais de TV humorísticos pra aliviar o clima barra pesada da trama, diminuindo assim a censura do filme.
Até hoje há quem aponte Robocop como uma cópia do Oitavo Homem cujo primeiro mangá de autoria de Kasumasa Hirai data de 1963, mas a verdade é que O Policial do Futuro conquistou seu próprio espaço na cultura pop. Se isso se perpetuará com as novas gerações através do remake só o tempo dirá.
E se for pra pensar a sério sobre quem começou a copiar quem, O Oitavo Homem também teria que ser considerado plágio… do Frankenstein!