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Das antigas: O Sombra, com Alec Baldwin

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Férias no serviço e greve na pós. Tudo o que eu precisava pra remexer minha coleção de DVD’s…

Há quase vinte anos, no longínquo ano de 1994, os filmes de super-heróis passavam por um de seus (ainda que em escala muito menor se comparado a hoje) BOOM!’s em Hollywood. Muitos autores apontam a safra daquela época (final dos anos 80 até a segunda metade dos 90) como resultante da Batmania decorrente dos dois primeiros filmes de Tim Burton à frente do personagem, que fez da morcega e seus coadjuvantes uma coqueluche entre todo mundo. Fato é que, por essa época o mundo assistiu (ou não) pérolas como a série do Flash (1990, que começou com um longa); o filme do Capitão América (1990); o primeiro MiB (1997); o nunca visto filme do Quarteto Fantástico (1994); Geração X (1996); Gen¹³ (1998); Aço (1997); o filme da Liga da Justiça pra Tv (1997), entre outros. Nesse pacote de “outros” temos O Sombra, com Alec Baldwin no papel principal, dirigido por Russell Mulcahy, que tinha em seu currículo uma pérola e uma bomba: Highlander (1986) e Highlander II (1991), respectivamente.

Conforme a sinopse do filme, O Sombra é “baseado no famoso personagem das histórias em quadrinhos da década de 1930, Alec Baldwin é Lamont Cranston, o milionário que durante a noite se transforma no justiceiro O Sombra, uma figura misteriosa que possui o poder de manipular as pessoas através da mente. Ele terá de encarar o seu arquiinimigo, Shiwan Khan (John Lone), que possui os mesmos poderes e planeja dominar o mundo, ameaçando jogar uma bomba atômica na cidade de Nova York. O Sombra terá agora que enfrentar duas complicadas tarefas: esconder sua identidade secreta da elegante Margo Lane, por quem está apaixonado, e salvar a cidade antes que ela seja destruída.”

Além de Baldwin e Lone, integram o elenco Penelope Ann Miller, Tim Curry e, pasmem, Ian McKellen, naquela que provavelmente foi sua primeira incursão no mundo quadrinhístico.

Confesso que tinha boas memórias deste filme à época. Mas, como sempre, a regra dos quinze anos é algo que não deve nunca, jamais, ser desprezada e foi isso que eu fiz. No donuts for me.

Como a maioria das produções do período, O Sombra padece com um roteiro fraco, atuações (bem) pouco inspiradas e um total desconhecimento (ou quem sabe, desprezo) ao material original. Quer dizer, primeiro era preciso se definisse de qual material original estamos falando. Afinal de contas, a sinopse traz em si os quadrinhos como fonte de inspiração (que são dos anos 40, não dos 30), mas é evidente que Mulcahy foi beber na novela de rádio (essa sim dos anos 30). Na verdade, são os elementos centrais da novela radiofônica (o treinamento na Ásia, os poderes hipnóticos, a invisibilidade) que conduzem a trama. Entretanto, há um apego quase desesperado, sobretudo no que diz respeito à fotografia do filme, à estética dos quadrinhos (como se veria depois no Hulk de Ang Lee, por exemplo). São enquadramentos, cores, iluminação (é absurda a “sombra mágica” que cobre o rosto de Lamont toda vez que ele usa seus poderes), que remetem diretamente aos quadrinhos, como que querendo dizer: “veja! É um filme de gibi!”.

Isso sem falar dos imensos furos de roteiro. Até agora ainda me pergunto como Shiwan Khan conseguiu levar um exército de verdadeiros mongóis da Mongólia para os EUA, sendo que o próprio fez a viagem num sarcófago tibetado, ou ainda, se o próprio Shiwan diz que seu treinamento não foi tão bem sucedido quanto o de Lamont, como é que o vilão conseguia controlar a faca mágica e Lamont não? Sem contar a transformação de Lamont em Sombra, que muda mesmo a forma do rosto do ator para incluir o famoso nariz adunco (que, bem no finalzinho do filme, vê-se que é apenas mais um truque de hipnose). Se é hipnose, porque ela acontece aos poucos e não de uma vez só?

Engraçada também é a inutilidade da personagem de Penelope Ann Miller, Margo Lane. Nos quadrinhos, ela é a noiva do herói, a única a saber o segredo de sua identidade. No filme, a relação entre ela e Lamont é totalmente insubstancial, e seus “dons telepáticos” latentes são convenientemente esquecidos quando convém à trama.

No fim, O Sombra é um filme boboca e raso, mas tem a seu favor o fato de que, no período, bem poucos tinham alguma profundidade. Hoje tem cara de filme feito pra televisão, com efeitos visuais de segunda (acho que mesmo para a época já eram efeitos de segunda) e muito mal dirigido em todos os aspectos. Aos olhos da época, deve ter tido cara de “ah, uma cópia do Bátema que usa armas!”

Depois de revê-lo, só posso esperar que um dia, nessa vibe de remakes e retomadas, alguém competente resolva ressuscitar aquele que sabe o mal que se esconde no coração dos homens no cinema. Quem sabe?


O Sombra sabe…



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