Hoje é dia de relembrar um dos filmes mais simpáticos que passavam na Sessão da Tarde.
Alguém Muito Especial conta a história de Keith, vivido por Eric Stoltz, um jovem que sonha em ser pintor apesar de seu pai insistir para que ele faça faculdade de administração pra ser alguém na vida. Keith tem um amor platônico por Amanda Jones (Lea Tompson), namorada do playboyzinho babaca Hardy (Craig Sheffer). Aproveitando uma das muitas brigas do casal, Keith consegue marcar um encontro com Amanda com ajuda de sua melhor amiga Watts (Mary Stuart Masterson), que todos pensam que é lésbica, mas que tem também um amor platônico pelo protagonista.
O problema é que para impressionar Amanda, Keith usa o dinheiro da sonhada faculdade do pai pra comprar brincos de diamante pra ela e, além disso, Hardy planejou se vingar mandando seus amigos darem uma surra no aspirante a pintor quando eles forem para uma festa na sua casa.

Esse seria mais um daqueles filmes do tipo “as aparências enganam”, tão comum nos filmes adolescentes nos anos 80, não fosse por um pequeno detalhe: John Hughes. Apesar de dirigido por Howard Deutch, o longa metragem foi escrito e produzido por Hughes. Ou seja, ele AINDA É um filme onde as aparências enganam, mas a abordagem sensível que a história dá a um drama adolescente sem cair na pieguice é a cara de Hughes.
Desde que ele escrevia o roteiro já tinha Eric Stoltz em mente para o papel principal. E o ator realmente domina o filme ao lado de Mary Stuart Masterson, embora Craig Sheffer e Lea Tompson também estejam muito bem em cena. A dublagem clássica da Sessão da Tarde é muito legal com Rodney Gomes dublando o protagonista e Miriam Ficher fazendo a voz da melhor amiga apaixonada por ele. A propósito, dizem que os nomes Keith e Watts são homenagens aos membros do Rolling Stones.

O ponto fraco de Alguém Muito Especial, fora o fato de ser obviamente uma história clichê, é uma edição que as vezes complica em vez de explicar. Só na parte final do filme é que eu fui descobrir que a Amanda é da mesma classe social que o Keith e a Watts, por exemplo. Dizem que o Joihn Hughes e o Howard Deutch tinha se desentendido quando fizeram A Garota de Rosa Shocking – aliás, inegável a conexão entre as duas histórias – e esse filme seria uma reconciliação dos dois.
Difícil saber onde ajuda ou atrapalha mais. Alguns diálogos e cenas foram cortados como o Hardy quebrando um lápis na escola pra intimidar Keith quando ele olha pra Amanda e as cenas finais são cheias de erros de continuidade. Acho aquela epifania que o Keith tem quando sai da festa do Hardy bem jogada de qualquer jeito na história. Porém, uma mudança que ficou melhor foi a idéia, ausente do roteiro de Hughes, da gangue do amigo maluco do Keith chegando na festa.
Já uma idéia que teria sido ótima senão fosse cortada é que quando Keith está correndo atrás de Watts ele a chamaria pelo seu primeiro nome pela primeira e única vez: Susan.

Felizmente o que sobressai são personagens bem carismáticos em situações atemporais nas quais é muito fácil você se identificar e que rendem pequenos grandes momentos memoráveis, tamanha a autenticidade que
passam, especialmente nas cenas de Keith abrindo o coração com a Amanda no anfiteatro, em quase todas as cenas com a Watts e na hora que ele acerta as contas com o pai:
“Eu gosto de arte, trabalho num posto de gasolina e minha melhor amiga é uma homossexual. Essas coisas não fazem muito sucesso num colégio americano.”