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Mitos Cinematográficos: Sergio Leone Foi a Grande Inspiração de Clint Eastwood

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Eu já desconfiava de um puta exagero nessa afirmação. Muitas pessoas fazem internet afora longas elucubrações sobre como Leone conferiu densidade aos westerns e como Clint aprendeu daí todos os ensinamentos que usaria em seus filmes.

Acontece que não vejo quase nenhuma conectividade entre Os Imperdoáveis e a Trilogia dos Dólares por exemplo e quase todos os críticos vinculam o trabalho de Eastwood com o de John Ford (de quem era fã) não com o de Sergio Leone. Recentemente li a biografia do Clint Eastwood e pude comprovar com certeza. Pra começo de conversa Clint e Leone nunca foram grandes amigos porque literalmente não falavam o mesmo idioma. Leone não falava inglês e Clint demorou pra aprender algo de italiano.

Clint reconhece sim tudo o que Leone fez pelo gênero inserindo um estilo único e com grande eficiência em produções paupérrimas filmadas nas planícies da Espanha - e não na Itália como muita gente acredita. Leone também permitiu a Clint arriscar seus primeiros lampejos como diretor ao deixá-lo filmar algumas cenas. Por outro lado, Clint tinha algumas reservas com os roteiros, que ele achava prolixos demais.

Quando voltou pros EUA e iniciou parceria com Don Siegel é que ele foi se tornando seguro o suficiente pra tocar seus próprios projetos. O próprio Clint fala que Siegel foi o seu grande patrocinador na carreira de diretor. Ele o apoiou quando todos o marginalizavam por ter feito faroeste na Itália (a crítica norte-americana ABOMINAVA os filmes do Leone) e pelo seu papel mais proeminente nos EUA ser um policial considerado fascista e xenófobo, Dirty Harry, onde também havia sido dirigido por Siegel.

O diretor do cult Vampiros de Almas não só ajudou Clint a entrar na Director’s Guild of America assinando o cartão dele, já que não bastava a assinatura do próprio Clint, ele precisava de outra pra ser aceito. Siegel também fez uma ponta no primeiro longa-metragem que Clint dirigiu, segundo alguns dizem, para que ele não se sentisse inseguro.

Parece estranho falar isso hoje em dia, mas Clint Eastwood só se tornou um nome reconhecido e admirado quando dirigiu Bird nos anos 80, biografia da vida do cantor de jazz Charlie Parker.

E o que Clint trouxe do Western Spaghetti foi essencialmente a síntese do seu personagem de Homem Sem Nome, uma estética “suja” que na época em que Leone usava livremente, a censura proibia nos EUA. E com os ambos os diretores ele aprendeu a improvisar sobre adversidades, já que tanto Siegel quanto Leone criaram clássicos com orçamento limitado.

Não estou dizendo que Clint não teve inspiração em Leone. Ele teve e muita. Mas teve mais inspiração ainda em Siegel. Tanto que dedicou Os Imperdoáveis a ambos, seus dois mestres, mas muita gente ignora o segundo e só se lembra do primeiro.

Sergio Leone foi provavelmente o maior iconoclasta do gênero western, mas não pelo que muitas pessoas acreditam. Pela popularidade que seus filmes alcançaram nas gerações seguintes muitos creêm que ele tornou o gênero mais adulto, com uma abordagem mais psicológica. Tudo isso por causa dessa impressão estética forte que ele causava, marcando também um estilo em que o velho oeste era abordado quase como se fosse uma ópera, em oposição ao que se fazia até então. Acontece que na verdade foi o INVERSO.

O Western Psicológico nasceu na década de 40 e se solidificou com as idéias de Anthonny Mann – que vinha do Cinema Noir – na década seguinte, proliferando daí em diante com filmes cada mais sérios e sombrios, dando origem ao chamado Western Crepuscular. Segundo o próprio Leone a intenção da sua abordagem era exatamente se afastar disso.

Estou trazendo de volta a ação Western. A figura do cowboy se perdeu em psicologia. Várias tentativas têm sido feitas para explicar os motivos tanto dos heróis quanto dos vilões e torná-los compreensíveis e aceitáveis nos termos modernos. O Oeste foi feito por violência, homens simples e é essa força e simplicidade que eu tento recapturar nos meus filmes.

 

Coincidência ou não, Por um Punhado de Dólares de 1964 foi uma refilmagem não autorizada de Yojimbo de Akira Kurosawa, filmado em 1961. E o cineasta japonês, a exemplo do seu colega italiano, era fascinado pela cultura norte-americana e baseou seu longa metragem não nas histórias clássicas de samurais e sim nos westerns de John Ford e no filme noir A Chave de Vidro de 1942, adaptação de Frank Tuttle de um clássico romance de Dashiell Hammett.

 



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