
A editora New Pop lançando assim, como quem não quer nada, material da Vertigo. E eu comprando assim, como quem tem tudo na vida…
Usturdia, batendo meu ponto na banca de jornal do Seu Joaquim, vi alguns lançamentos dessa nova investida da Vertigo no Brasil. A maioria era num formato meio estranho, parecendo os antigos Panini Pocket – formatinho e lombada quadrada – daí eu não dei moral não. Mas tinha esse álbum, em formato americano. Uma cara meio estranha, uma capa graficamente pouco convidativa e um preço menos ainda. Mas, sei lá, acho que Jesus tocou meu coração e eu comprei esse estranho álbum “É um pássaro…” de Steve T. Seagle e Teddy Kristiansen, pra ver de qualé que era da iniciativa.

Bem, antes de mais nada, segue a sinopse dele:
A vida profissional de Steve nunca esteve tão boa. Ele recebeu a chance de escrever as aventuras do herói mais famoso do mundo: o Superman. Mas a vida pessoal dele está começando a desandar. Seu pai desapareceu, sua mãe está muito preocupada e um segredo sombrio voltou a assombrá-lo: uma doença genética fatal que ameaça destruir outra geração de sua família. Nos mundos que Steve cria e escreve, a salvação vem através das fantásticas demonstrações de força e poder. Mas, no mundo real, onde nem todas as doenças têm cura e o único Superman é um desenho bidimensional no papel, quem poderá salvar o dia? Trabalhando ao lado do aclamado desenhista Teddy Kristiansen (Sandman: Casa dos Mistérios), o escritor Steven T. Seagle (Sandman: Teatro do Mistério) criou uma trama semi-autobiográfica que explora os vários significados subjacentes do ícone que é o Superman. Invocando uma variedade de estilos e vozes, É um Pássaro… é profundamente pessoal, alternativa e selvagemente experimental, sendo uma história forte a respeito de memória, família, perda e da nossa necessidade por heróis…
Primeira coisa: É um pássaro… não é, veja bem, NÃO É um álbum do Superman. O cara aparece a cada duas, quatro páginas, mas não se trata de um álbum dele. Pelo contrário, trata-se de um álbum muito legal sobre um roteirista que se acha o senhor fodão até ser convidado para escrever aquele que é, sim senhor, o Sr. Fodão dos super-heróis. É um pássaro é justamente sobre esse roteirista, sua família, seu passado (seu futuro) vistos sob a perspectiva desse convite.

Segunda coisa: por isso mesmo, É um pássaro… é um álbum foda. Foda mesmo, foda duas vezes! Por um lado, ele é sensacional por conta das coisas que Steve está passando, pelas reflexões que faz acerca da vida cotidiana que o certa, profundamente alterada por um mal, silencioso, que (talvez) se aproxima. Por outro lado, o álbum é incrível porque, à medida que Steve tenta se aproximar do personagem Superman para escrevê-lo, ele acaba se deparando com muitas questões colocadas por autores e leitores que acham o personagem defasado ou sem graça. Steve é um desses, mas sua forma peculiar de encarar a escrita o obriga a peitar essas críticas, a passar por elas. É um pássaro… é um álbum muito legal por ter um drama humano forte, usar o Superman como forma de encarar esse drama e, ao mesmo tempo, fazer quase um apanhado quase técnico-filosófico sobre o personagem mais famoso do mundo dos quadrinhos.

A arte de Teddy Kristiansen é muito bacana e casa muito bem com o clima que Steve Seagle quer imprimir à trama. As páginas sobre o Superman são frias, distantes, porque refletem exatamente a forma como Steve encara o personagem: à distância. Em paralelo, os momentos que o foco está na vida do roteirista, são preenchidos de detalhes pequenos, mínimos, em cores fracas, quase outonais, que remetem diretamente à confusão, ao choque que permeia aquele momento que Steve está passando. Inclusive, é um álbum onde a cor conta muito, se intromete e participa da história de um jeito muito legal.
Enfim, se você gosta do Superman, leia É um pássaro…. Se você não gosta, leia também. Você vai se surpreender com a chance de conhecer o personagem através de alguém que, como você, não gosta dele.

É um pássaro… (It’s a bird…), de Steve T. Seagle e Teddy Kristiansen. DC/Vertigo (2004), Ed. New Pop (2012), 136 páginas, R$ 39,90.
Nota: 8,5
(P.S.: Se ficou curioso – como eu fiquei – saíram histórias do Steve T. Seagle com o universo do Super nas edições 21 a 24, 26, 28 e 32 da primeira fase da revista “Superman” da Panini)