
Tá, tá, tá… Tooooodo mundo já falou do filme. Menos eu, e isso é que importa.
A expectativa de um filme do Nolan, em geral, e com o Bátema, em específico, é inevitável. Seus dois últimos trabalhos (A origem e Batman – o Cavaleiro das Trevas) fizeram isso – dificilmente há alguém interessado em cinema ou quadrinhos e que tenha entrado na sala de exibição de maneira ingênua para o novo filme da Morcega.
Por que falar tanto de expectativa? Porque todas as (poucas, porque eu estava evitando até ver o filme) críticas negativas que li, mesmo quando não diziam especificamente disso, tinham razão por conta do diacho expectativa. Daí, já digo de cara: Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge (TDKR) é um filme muito bom. E não, ele não está à altura da expectativa gerada por seu antecessor. Nada estaria.

Bem, vou me furtar a fazer um resumo do filme, você já deve estar careca de saber. Vamos logo de uma vez ao que eu acho notável na película (aah, vai ter spoiler, viu? E mais uma coisa: eu não li as outras resenhas aqui do MdM ainda. Então, se por acaso alguma informação se repetir e vocês se incomodarem com isso… Me processem. Ou o Change, que ele tá acostumado).
O filme em si: Não sei se poucas pessoas perceberam, ou se foram poucas que resolveram comentar, mas TDKR é muito mais devoto (ou continuação) de Batman Begins do que de Batman o Cavaleiro das Trevas (TDK). O plano mestre, o(s) vilão(ões) da rodada, a condução da trama (um vilão fantoche de um inimigo maior)… Na verdade, não fosse a citação às mortes de Harvey Dent e Rachel Dawes, você poderia pular de Begins para TDKR direto. Isso é um ponto legal, mas também revela uma escolha muito clara de Cris Nolan: evitar uma continuação direta de TDK. Porque Heath Ledger morreu? Também. Mas porque ali estava estabelecido um patamar alto justamente pela inovação, pela surpresa. Não dá pra surpreender duas vezes, porque na segunda vez você já vai esperando ser surpreendido.

A escolha do Bane como vilão, e a intersecção de HQ’s que serviram de pano de fundo: pra mim, a participação de duas HQ’s no filme é clara. A queda do Morcego, óbvia quando se fala de Bane e Terra de Ninguém, representada no isolamento e estado de anomia que se instala em Gotham, tal e qual no gibi. E, sejamos sinceros: pode até ser que você não tenha gostado do filme, mas há de reconhecer que o tratamento cinematográfico dado gerou um resultado muito, mas MUITO superior ao material original.

O filme tem falhas? Sim, como os outros dois também tinham, ainda que aqui as que mais me incomodaram se refiram, justamente, a um relaxamento quase amador da direção do longa. A morte de Thalia Al Ghul ficou patética, e quase condena toda a excelente interpretação que Marion Cotillard apresentou durante o filme. O “Robin” inserido, quase como um gracejo, no personagem de Joseph Gordon-Levitt, também foi bobo. As mortes apressadas do Insp. Foley e do Bane decepcionam. Tudo seria resolvido com uma pensada melhor antes da edição final (os casos de Foley e do Robin), uma repensada no roteiro (Bane) e um “Corta, vamos fazer de novo?”, no caso da Thalia.

Mas o filme também tem pontos muito altos. Pra mim, o grande nome do elenco é, mais uma vez, Michael Caine. Seu Alfred é perfeito, emocionante e claro em seu papel de ser o pai de Bruce Wayne. As cenas em que ele se demite e depois, quando chora sobre o túmulo dos Wayne são absurdamente tocantes. Inclusive, Nolan retratou um Alfred que, muito mais do que conselheiro ou mordomo, encarna toda a RACIONALIDADE do Morcego. Palmas para o diretor e para Caine, que encarnou isso muito bem.

Tenho visto gente reclamando da atuação de Anne Hathaway como Mulher Gato e, poxa, eu gostei bastante. Acho, como disse a Srª Porco, que ela podia ter se movimentado mais, sido mais lânguida como foi, por exemplo, Michelle Pfeiffer, mas fica evidente que ela se inspirou nas Mulheres Gato do seriado do anos 60 (achei legal sacada da orelinha-que-não-é). E ficou legal. Diferente da Mulher Gato de Pfeiffer, sua Selina Kyle não é uma secretária reprimida que de repente se solta completamente (Mara Tara, é você?), do contrário, é uma prostituta de luxo, escolada no ofício do furto. Enquanto Michelle seduzia vestindo couro, Anne quando põe a roupa preta, o faz pra roubar. Só. Tem um andar sedutor, insinuante, mas é distração. Ainda que não tenha uma cena memorável como a lambida de Batman, o retorno, a Mulher Gato de TDKR é uma personagem muito melhor construída do que aquela.
No fim, certamente que TDKR é inferior a a TDK, mas é muito superior ao primogênito da franquia, Batman Begins. E, ao mesmo tempo, fecha com chave de ouro uma franquia muito bem sucedida e que segue sendo muito melhor do que quaisquer outros filmes do gênero que já vimos até agora.

Nota: 8,5
Ah! Alguém reparou algumas gagzinhas visuais que o diretor colocou? No jogo de futebol americano, o jogador que faz o touchdown chama-se Ward (Burt?). Tá, eu também erro. Mal aí. Nos julgamentos públicos, Jonathan Crane está vestido como um espantalho, com palha saindo pelo ombro do paletó… Alguém viu algo mais?