Desde 2005, quando a primeiro filme da trilogia foi lançado, o universo criado por Nolan redefiniu conceitos e ditou regras sobre as adaptações baseadas em quadrinhos e, agora, encerra sua visão do Cavaleiro das Trevas com uma história profundamente adequada, embora não livre de problemas.
(Aviso: Embora a resenha não possua spoilers propriamente ditos, alguma considerações podem levar à deduções acerca da trama. Ou seja, leiam com cautela)
Eu não li as críticas feitas pelos outros MDMs, mas acho virtualmente impossível analisar O Cavaleiro das Trevas Ressurge sem abordar todos os filmes da trilogia, uma vez que este último é um círculo completo que compreende todo o escopo do universo criado pelo diretor para o personagem, evocando desde pequenas e despercebidas cenas das histórias anteriores (como o Comissário Gordon emprestando seu terno para o pequeno Bruce após a morte de seus pais em Batman Begins) a grandes temas como dor, sacrifício, a superação do medo e, principalmente, símbolos.
A esta altura, creio que a trama básica todo mundo já conhece: Após os eventos vistos em O Cavaleiro das Trevas, Batman levou a culpa pelos crimes do Duas Caras para que Harvey Dent continuasse sendo o “herói que Gotham precisa”. Por conta disso, uma lei foi aprovada que permitiu que criminosos fossem encarceirados sem direito à condicional ou fiança, o que acarretou numa queda significativa na criminalidade de Gotham. Batman, que não era mais necessário, saiu de cena. 8 anos depois, vemos uma Gotham em paz, porém uma paz quase utópica sustentada por uma mentira. E é claro que a tranquilidade não irá durar muito tempo quando Bane surge para abalar as estruturas da cidade (literalmente) e forçar o retorno do Cavaleiro das Trevas.
O Cavaleiro das Trevas Ressurge traz consigo uma série de marcas características das histórias do Nolan, como uma trama bem amarrada, personagens profundamente bem caracterizados e – o que para mim é um dos maiores méritos do diretor no que se refere à trilogia do herói – a sensação de perigo real, que nos faz ter uma imersão diferente na trama se compararmos com filmes mais fantasiosos como Os Vingadores. Embora tudo isso contribuía para maior verossimilhança e realismo na história, acho que podemos considerar, em muitos aspectos, O Cavaleiro das Trevas Ressurge como o filme mais “super-herói” de toda a trilogia (mais até que Batman Begins).
Isso não chega a ser um demérito; afinal, Batman, quer a gente queira ou não, é um “super” herói, no sentido de que é um ser humano que faz coisas além das capacidades do homem comum (ainda que seja por conta de treinamento intensivo e não por superpoderes). Mas proporciona diversos momentos, situações e características da narrativa que tornam o filme ligeiramente inferior ao seu antecessor.
A começar pelo escopo: A escala do filme não só é épica, como megalomaníaca, o que traz ao filme cenas de ação muito maiores do que a de qualquer um dos filmes anteriores e aumentando a “massaveísse” da trilogia (que já era relativamente alta). As cenas encantam pela beleza estética, pela verossimilhança e pela competência do diretor, mas acabam cansando às vezes pelo excesso.
Falando em excesso, se você gosta de reviravoltas, vai adorar este filme, pois O Cavaleiro das Trevas Ressurge está cheio delas. Cheio até demais, na verdade, especialmente na última meia hora de filme. Embora muitas das reviravoltas sejam até bastante previsíveis para quem prestou bastante atenção nos outros filmes e conhece o universo do personagem, elas servem à trama de forma coerente, mas não deixam de ser também um pouco excessivas.
Outro ponto que eu considero passível de crítica é quanto à relevância dos personagens. Fiquei mal acostumado com todos os personagens novos inseridos servindo à trama em O Cavaleiro das Trevas que fiquei chateado de ver o personagem do Matthew Modine servir para… Bem, basicamente para nada. Sua função na trama é totalmente dispensável e poderia ter sido tranquilamente feito por um ator menos conhecido, e até um ator menos talentoso. Mas admito que, tirando isso, a relevância dos personagens está extremamente competente e sólida, assim como as atuações de seus intérpretes. Anne Hathaway é provavelmente a “verdadeira” Mulher Gato (em termos de personalidade condizente com os quadrinhos), Alfred, Lucius e Gordon seguem seus papéis como facetas paternas para Bruce Wayne, fazendo-o se deparar com diversos temas clássicos do conflito pai/filho e o personagem novo, John Blake, não foi inserido por nada, sua participação é bem relevante na trama, sendo o jovem idealista que Wayne e Gordon eram no primeiro filme e contrastando com a visão atual dos dois e as decisões difíceis que tiveram que tomar ao longo dos filmes anteriores. Tom Hardy está excepcional como Bane, conseguindo ser bastante bruto e ameaçador, ao mesmo tempo em que assusta por sua inteligência. Sua voz, motivo de controvérsia desde o começo, causa estranheza o filme inteiro: Não é assustadora, mas ao mesmo tempo tem um “quê” de desconforto que caracteriza muito bem o vilão. Miranda Tate, personagem de Marion Cotillard, poderia ter sido melhor explorada durante o filme, mas sua relevância vai aumentando conforme a trama chega no seu ápice.
Quanto ao desfecho propriamente dito, não sei se haverá muitas controvérsias, mas analisando friamente, se O Cavaleiro das Trevas Ressurge não fosse um filme do Batman, o encerramento poderia ser considerado até bastante previsível. Quem não sacar o que vai acontecer no final a partir da metade do filme provavelmente vai ser porque não esperaria que o Nolan fizesse algo desse tipo com o personagem. Mas o fato é que Nolan utilizou de vários clichês para chegar nesse desfecho que, embora eu tenha achado extremamente satisfatório, me incomodou em detalhes específicos, que achei por demasiado piegas.
Mas mesmo com todas as considerações negativas O Cavaleiro das Trevas Ressurge é uma ótimo filme, e provavelmente o melhor encerramento de uma trilogia baseada num personagem de quadrinhos. Aliás, a trilogia toda pode ser considerada a melhor trilogia de uma adaptação de quadrinhos. O filme fecha um círculo perfeito, trazendo temas, aspectos e características do primeiro filme (como se fosse um “Batman Begins melhorado”), fecha pontas soltas, consolida relações entre os personagens e ainda nos dá um gostinho de quero mais. No fim das contas, encerra de forma bastante adequada a trilogia que redefiniu os filmes baseados em histórias em quadrinhos.
Nota: 8,5
Eu não errei o nome do filme no título do post, o filme que eu fui ver era mesmo “Batman ressurge”, eheuheueheuheuheeheuheu