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Alan Scott, Estrela Polar... Óh meu deus, por que as editoras fazem isso comigo? Ou Pra que ter personagens gays?

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Já vou avisando de cara: este não é o tipo de texto que muitos de vocês estão acostumados a ler aqui no MdM. Daí, você tem duas opções: ou deixa pra lá e espera o próximo post entrar (ui!) ou respira fundo e lê este até o fim. Escolhendo a segunda opção, tenha certeza de ter entendido bem o que eu escrevi antes de comentar, pode ser?


Bem,durante o meu atual e autoimposto exílio, algumas coisas aconteceram por aí - o Estrela Polar, o membro gay da Tropa Alpha, se casou. E o Alan Scott pós-recauchute, foi apresentado como gay.

Na esteira dessas notícias, milhões, digo mais, buzilhões de posts e comentários pelas internets afora criticando a iniciativa. Bem, como tradicionalmente sou eu quem se ocupa de assuntos de minorias aqui no blog, achei que era interessante um post sobre o lance dos gays na cultura de massa, melhor, nos quadrinhos. Um post mais abrangente e, espero, menos preconceituoso com o assunto (afinal de contas, eu falei que topava a Ariadna, né? Tenho de ser coerente!). Pra isso, elenquei alguns dos argumentos anti-homossexualidade nas HQ's para rebatê-los.



Argumento Um: "As crianças não precisam de heróis gays, porque com heróis gays elas vão acabar sendo incentivadas a serem também homossexuais."


Esse lance é engraçado, porque traz em si aquela velha contradição norte-amerikkkana, falso moralista e que também nos permeia bastante: por um lado, os quadrinhos são mídias de comunicação extremamente poderosas, capazes de alterar radicalmente o comportamento dos leitores mas, mas, MAS... somente quando o assunto é sexualidade. Porque se o tema for violência, aí não dá nada, e as crianças se tornam milagrosamente capazes de diferenciar entre violência ficcional e violência real - e apreciarem a primeira sem se entregarem à segunda, movimento que elas NÃO conseguem fazer quando o assunto é sexualidade.

Claro, esse argumento homofóbico tem por base uma "verdade" supostamente estabelecida, e poderíamos lê-lo da seguinte forma (peço licença aos mais sensíveis para o uso de palavras de baixo calão): "Essas bichices são pura falta de vergonha na cara, o vagabundo escolhe ser invertido e soltar o rabo, agora querem que as nossas crianças aprendam que isso é normal e queiram ser assim", ou em outros termos, parte da premissa de que a homossexualidade é uma escolha individual, como a religião, e portanto crianças podem ser "doutrinadas" a serem homossexuais.



Bem, não tenho mais visto pesquisas científicas recentes buscando a causa da homossexualidade, acho que o assunto meio que esfriou - ou os cientistas simplesmente entenderam que, sendo biológico ou cultural, a homossexualidade simplesmente existe no mundo - seja na cultura mais conservadora possível ou na mais liberal, seja hoje, em pleno século XXI ou na Grécia Clássica, seja entre seres humanos ou entre outros animais (de girafas a macacos, passando por gansos e golfinhos, vários animais apresentam comportamentos homossexuais), a constância das práticas homoafetivas no tempo e no espaço deixa bem claro: a homossexualidade é natural. Ponto. Negar isso é fingir de bobo, querer acreditar que o sol gira em torno da Terra e que o planeta tem bordas.

Ao mesmo tempo, ainda pode ser que os mais tacanhos sigam afirmando que a homossexualidade é uma questão de opinião, de comportamento. Então me diga: você pode escolher ter uma vida comum, ser notável ou passar despercebido, poder sair por aí de mãozinha dada com a sua(eu) namorada(o), ir ao cinema, tomar um sorvete. Ou ter um modo de vida em que as pessoas vão querer te bater, quebrar lâmpadas na sua cabeça, e te moerem na porrada se você abraçar alguém em público. Qual você escolheria? Alguém em sã consciência escolheria a segunda opção?



Argumento dois: "Se esses gays querem alguém para se inspirarem, que criem seus próprios personagens, ao invés de estragarem aqueles com anos de histórias e fãs"


Esse argumento tem alguma razão, quando aponta o caráter meramente marqueteiro de heróis "consagrados" se tornarem gays - ou negros, dá no mesmo neste caso. É evidente que dizer que "O Lanterna Verde é gay" tem um enorme apelo midiático, basta ver que mesmo os veículos não especializados estão falando do assunto (e não é atoa que a DC escolheu UM Lanterna Verde, mas vendeu como O Lanterna Verde). Entretanto, eu já disse isso antes, a maioria dos movimentos de minorias querem ser representados, porque representá-los é admitir que os vemos, que sabemos que eles existem, que estão sentados do nosso lado no ônibus, numa fila de banco, no cara que divide mesa com você no escritório. Representá-los, é lhes dar, enfim, visibilidade.



"Ora, que tenham visibilidade criando seus próprios personagens!" Tem razão. A imprensa não especializada deu mesmo muito cartaz para o fato da Batwoman ser homossexual. Ou para aquele casal formado por uma PARÓDIA do Superman com uma PARÓDIA do Batman. Não, ninguém deu a mínima. Todo leitor de quadrinho com alguma experiência na mídia sabe que o universo dos Comics funciona quase como um festival de música: há palcos e palcos, mas o que você realmente vai assistir acontece no palco principal. Não adianta nada que Apolo e Meia-Noite sejam um casal gay, se o número de pessoas que sabem quem eles são é pífio perto do Lanterna Verde. Não faz a menor diferença a Batwoman ser lésbica se, quando interage com o Batman (no palco principal) sua sexualidade seja varrida pra debaixo do tapete. A associação das carolas americanas pode até chiar pelo Estrela Polar se casar com um cara, mas ela vai se arder muito mais quando o "grande" Lanterna Verde sair do armário. E engraçado é que a DC escolheu um personagem secundário (o Lanterna Verde da Era de Ouro, que nem "lanterna verde", de fato, é), mas o vendeu como se fosse primário.

Sabe porque a gente quer que a indústria crie novos personagens para serem gays ou negros? Porque aí fica mais fácil ignorá-los. Sim, simples assim...

Argumento três: "Super-heróis são exemplos de retidão e moralidade, portanto não podem ser gays"




Essa é a mais abjeta de todas as justificativas. Heróis são exemplo de retidão e moralidade? Sim. E qual o problema de existir um exemplar de retidão e moral ilibada que também é gay? Por isso essa justificativa é a mais doída, porque pressupõe (ou reafirma a falácia) de que homossexuais são uma aberração moral, uma perversão sob todos os aspectos. E eu me sinto envergonhado de saber que ainda existem pessoas assim - mais envergonhado ainda de notar que essas pessoas não percebem que o mesmo argumento já foi usado em desfavor de negros, por exemplo. É inacreditável, eu sei, mas existem pessoas exemplares que são gays! Juro! Há gay de todo tipo - tem gay ladrão e corrupto também, tem gay que "estupra", tem gay que mata. Oh, wait! Tem hetero que faz essas coisas todas também! Ou seja, a orientação sexual não diz nada, NADA sobre o caráter ou a moral de alguém. Eu sei que isso pode ser chocante pra você, mas é verdade. Existem gays e lésbicas de todo tipo, juro!



O vídeo aí em cima mostra um mundaréu de gays e lésbicas. Uns mais afetados, outros menos, mas nenhum igual ao outro. E é um vídeo bem bacana porque, 1) mostra que alguém pode ser gay ou lésbica e você nem se dar conta e 2) porque numa determinada altura um cara diz que pra ele foi muito difícil se assumir porque não existia nenhum modelo que ele se sentisse bem para seguir, que não fosse uma caricatura. Aí está a importância ímpar de se ter um herói bacana como o Alan Scott (um dos meus personagens favoritos) como gay por exemplo. Ou um John Stewart como Lanterna Verde - porque jovens negros ou gays podem se identificar, se reconhecer e, apoiados na cultura de massa, integrarem suas próprias vivências e "personalidades".



Talvez essa seja a pergunta que nos falta fazer: Por que personagens gays? Por dois motivos, o primeiro deles porque, bem, gays existem. E se os quadrinhos podem dar cartaz para alienígenas de planetas destruídos, milionários com armaduras bélicas e deuses nórdicos de fala empolada, então porque não abrir espaço para situações reais? "Ah, porque quadrinho é fantasia!" Oras, mas até a fantasia, para ter algum proveito, precisa ser calcada no real, senão vira delírio e mais nada. Outro motivo é porque, minha nossa, gays também leem quadrinhos! Adultos e também adolescentes gays leem quadrinhos - porque eles não podem se ver representados no palco principal das histórias?

Não é melhor do que sempre ocupar a marginalidade, o lugar de segunda? Eu acho que é, mesmo não sendo gay...




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