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Reviewzão: Joe, o bárbaro

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"Por quê?", você me pergunta. "Grant Morrison", eu respondo. E se um funkeiro passar por perto, "Por quê, Grant Morrison?" pode virar um refrão e tanto!


Veja bem, tem uns caras que a gente sempre precisa, pelo menos, dar uma conferida no material novo que ele coloca nas bancas. Grant Morrison é um deles, naturalmente. A lista tem mais gente, mas como esse review se refere a uma obra do autor, vou citar só ele. Se o material desse autor surge no lugar de algo que te deu raiva (Vikings) dentro de uma revista mix que você já acompanha (a Vertigo), então a coisa fica moleza, né? Tipo empurrar bêbado ladeira abaixo.



Ao contrário do que o parágrafo pode sugerir, eu não cheguei à série ligado no piloto-automático: cheguei porque a premissa era boa (um garoto diabético delirando durante uma crise de hipoglicemia) e estava nas mãos de um autor muito competente. Ou seja: se tivesse saído numa edição encadernada em capa dura, eu ficaria pelo menos tentado a comprar. Para minha sorte (e renderei graças e aleluias por sete dias), a mini saiu dentro do mix da Vertigo. Os deuses nerds não jogam dados com seus devotos!

Mas peralá, estou me adiantando. Antes vamos a uma sinopse da série, diretamente do site da Panini:

Joe Manson é um jovem que, além da diabetes, tem uma imaginação hiperativa. O dia já não estava indo bem, e de repente ele se vê com hipoglicemia e uma de suas consequências: alucinações. A partir daí, conseguir descer do seu quarto no sótão até achar um refrigerante na cozinha pode ser uma odisseia sem precedentes em meio a animais falantes, inimigos medievais, Transformers, Batman e tudo que faz parte da mente heroica e delirante de Joe.

Mistura de O Senhor dos Anéis, Alice no País das Maravilhas e Esqueceram de Mim - nas palavras do roteirista Grant Morrison -, Joe,o Bárbaro fez sucesso de crítica e público nos EUA, onde foi indicada ao Prêmio Eisner e teve os direitos de adaptação para o cinema comprados pela Thunder Road Pictures. Além de ter sido o trabalho que revelou ao grande público o desenhista Sean Murphy, hoje um dos nomes mais comentados da nova geração de quadrinistas.




Ah, vai, fala sério: exceto pelo trecho em que o velho deus do Búguima diz com o que a trama se parece, dá vontade de ler, não dá não? Pois é.

Mas a verdade é que Joe, o bárbaro é uma droga. Sim, é uma mistura de Senhor dos Anéis e - eu colocaria O Mágico de Oz - Alice no País das Maravilhas, mas a parte do Esqueceram de Mim é de uma forçação de barra absurda.



O cenário fantástico (a parte Senhor dos Anéis da receita) é bastante interessante, e aparentemente muito rico. Talvez este seja o único ponto em que a gente consegue vislumbrar um pentelhésimo da afamada criatividade morrisoniana - só o suficiente para você ficar ainda mais irritado com o desenrolar da trama, porque aquilo não vai dar em lugar nenhum, não vai ser aproveitado ou desenvolvido. Numa metáfora, toda a ambientação que Morrison cria (e que Sean Murphy ilustra com um talento impressionante) faz soar como se, sobre o cenário cheio de detalhes da Monalisa, a protagonista do quadro tivesse sido pintada como um bonequinho de palitos. O pano de fundo de Joe, o bárbaro é tão complexo, tão cheio de detalhes, que eu fico desgraçado da minha cabeça quando percebo que ele é tão útil como comprar uma edição de luxo de O Guarani impressa em papel higiênico. Joe, o bárbaro, se não bastasse ser o pior trabalho do careca que já li, é completamente raso e descartável, bobo e incapaz de gerar qualquer comoção no leitor - digo, qualquer comoção que não seja raiva.

Quem aí já foi jogador de RPG contumaz, já passou por algo similar a Joe, o bárbaro. A trama transcorre exatamente como naqueles dias em que o mestre de jogo está com preguiça e vai narrando fatos em sequencia sem nenhuma lógica entre eles, sem vontade, só para passar o tempo - é isso o que Morrison faz aqui.



Para celebrar isso tudo, o escocês careca arremata com um final completamente bobo, ligado à história através de dois meros fiapos, duas linhas de diálogo soltas em pontos distintos.

Nesse mar de lama, é preciso elogiar (e muito) a arte de Sean Murphy - que eu já acompanhava, há tempos, pelo deviantART - o trabalho do cara é realmente bom, muito bom. Seu estilo é detalhista, preocupado com os mínimos pontos, mas ao mesmo tempo parece ser uma arte bastante rápida, ágil, que não descuida da ação. Se for uma situação de vida e morte, posso pelo menos apontar uma real qualidade na história, e essa qualidade é a arte. Só.

Pra fechar, a sinopse da Panini traz que os direitos de Joe, o bárbaro foram vendidos para o cinema. Ok. Eu até acho que pode dar um bom filme. E só. Daqueles tipo Sessão da Tarde, que você assiste, passa o tempo, se diverte e volta a tentar desencravar aquela unha do dedão do pé depois que acaba. Como se nada tivesse acontecido.



(P.S.: E olha que eu nem citei que a HQ parece muito com o álbum Reino dos Malditos, de Ian Edginton (roteiro) e D'Israeli (desenhos), álbum que a Pixel lançou por estas bandas em 2006)

Joe, o Bárbaro (Joe, the barbarian), Grant Morrison (roteiro) e Sean Murphy (arte). Editora Panini (revista Vertigo, números 21-28, R$ 9,90 cada). Setembro de 2011 a março de 2012.

Nota: 5 (e é inteirinha pela arte)



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