
Após algumas conversas aqui com o pessoal no MDM percebi que nem todos enxergavam na representação do Batman de Christopher Nolan o mesmo herói dos quadrinhos. Então decidi buscar as fontes de referência que o diretor, David Goyer e seu irmão Jonathan Nolan usaram para retratar aquele universo no cinema.
BATMAN BEGINS
Espinha Dorsal da Trama: Ano Um/Ano Dois/O Homem Que Cai

Batman Ano Um de Frank Miller e David Mazzuchelli mostra Bruce voltando a Gotham, reencontrando a Caverna debaixo da Mansão Wayne e explora seu relacionamento com James Gordon (Gary Oldman) e Alfred (Michael Caine), embora nos quadrinhos Gordon não tenha conhecido Bruce quando ele era criança.
Também é daí que surgem o conceito de Alfred ter experiência com medicina de guerra, o temor do detetive Arnold Flass (Mark Boone Junior) por Batman, o poder de Carmine Falcone (Tom Wilkinson) apelidado de "O Romano" nas HQs, sobre a cidade e a corrupção policial, encabeçada pelo Comissário Loeb (Colin McFarlane). Estes dois últimos aspectos foram revisitados em O Longo Dia das Bruxas de Jeph Loeb e Tim Sale.
A cena da fuga de Batman da força-tarefa da SWAT em meio à chuva de morcegos e a cena final do herói e Gordon com o Bat-sinal e a carta do Coringa são outras reproduções bastante similares de cenas de Ano Um.

A trama básica de Joe Chill (Richard Brake) e da personagem Rachel Dawes (que em Begins foi vivida por Katie Holmes) surgiram de Batman Ano Dois de Mike W. Barr e Alan Davis. Sendo que Rachel, originalmente chamada Rachel Caspian ou Raquel Caspian (dependendo do humor do tradutor da Abril) originalmente era uma noviça filha do vilão Ceifador que também só conheceu Bruce depois de adulto e Begins também toma como base a primeira aparição de Joe Chill numa história de Bill Finger nos anos 40.
Em ambas as versões Chill morre diante dos olhos de Bruce, sem que ele possa consumar sua vingança. Além do gibi de linha, Batman Ano Dois já foi republicado uma vez em formatinho em O Melhor de Batman da editora Abril.
Batman Ano Dois teve uma continuação, Full Circle (algo como O Círculo Se Fecha) que até hoje continua inexplicavelmente inédita no Brasil. É dessa sequência que veio a cena do filme aonde Bruce atira a arma no mar, um dos mais belos momentos do longa. Ambas as HQs foram a base do longa animado Batman - A Máscara do Fantasma.

A principal inspiração de Nolan e Goyer para o conceito que relaciona as viagens de Bruce com suas lembranças do pai e o seu destino é O Homem Que Cai de Denny O´Neal e Neal Adams, republicada no Brasil no Almanaque Batman Classic 1 da Opera Graphica e que por sua vez é inspirada em clássicas histórias dos anos 40 de Bill Finger, Bob Kane e Gardner Fox sobre as origens do Batman.
É também a história que melhor detalha as etapas do treinamento de Bruce, mostra ele peregrinando num país distante na neve e retrata o dia em que ele caiu no buraco dos morcegos, tudo mostrado mostrado através de recordações como no filme. Existem ainda menções de O'Neal a outras histórias como Ano Um, Justiça Cega e Um Conto de Batman: Shaman, além de citar personagens dessas HQs que também aparecem em Batman Begins, como Henri Ducard.
Não é a toa que Nolan disse nos extras do longa-metragem que essa foi sua principal inspiração. Algumas cenas são visualmente idênticas a esta HQ. Daí parece também ter surgido a idéia da frase dita por seu pai, Dr. Thomas Wayne (Linus Roache), no filme:
"Por que caímos? Para aprendermos a nos levantar."
OUTRAS HISTÓRIAS

O personagem Richard Earle, interpretado por Rutger Hauer no cinema como um dos chefões das Empresas Wayne, faz uma ponta em O Longo Dia Das Bruxas de Jeph Loeb e Tim Sale como um corrupto presidente do Banco de Gotham, chamado Richard Daniel. A exemplo do que Goyer e Nolan fizeram com Rachel, Henri Ducard e Joe Chill, apenas a idéia básica e a parte que interessava de seu relacionamento com Batman/Bruce Wayne foram mantidos. No caso um burocrata corrupto que representava um dos obstáculos par ao heróis salvar a cidade do mafioso Falcone, embora fosse mencionada uma ligação direta entre estes dois personagens no longa-metragem.
Nos quadrinhos ele morre rapidamente e não tem nenhuma relação com Lucius Fox (Morgan Freeman). Aliás, na HQ Lucius não sabe que Bruce Wayne é o Batman e foi sempre o presidente da empresa, jamais tendo tido participação na criação dos equipamentos do herói. Uma mudança significativamente positiva da parte de Christopher Nolan.

O Bat-tanque é o mesmo das HQs O Cavaleiro das Trevas de Frank Miller e novamente em O Messias de Jim Starlin e Bernie Wrightson.

O treinamento mental à base de drogas alucinógenas de Bruce Wayne aparece em Um Conto de Batman - Tao de Alan Grant e Arthur Ranson. E o treinamento espiritual de Bruce com ênfase no poder do símbolo do Morcego foi especialmente desenvolvido na história Um Conto de Batman - Shaman, de Denny O´Neal e Edward Hannigan.

Dr. Jonathan Crane (Cillian Murphy) se tornou o vilão Espantalho e fez sua primeira aparição numa história de Bill Finger e Bob Kane em 1941. A cena do primeiro encontro entre Batman e Espantalho no longa parece ter sido baseada numa HQ de Denny O'Neal chamada Não Há Esperança no Beco do Crime, que por sua vez também um episódio do desenho animado Superamigos, aonde o gás do medo fazia Batman se lembrar do assassinato dos pais no Beco do Crime. Já a cena do Espantalho à cavalo é inspirado em uma cena de O Longo Dia das Bruxas.
Henri Ducard (Liam Neeson), que treinou Bruce Wayne, era no longa-metragem uma máscara de Ra´s Al Ghul, assim como Bruce Wayne era uma máscara do Batman. Mas o personagem surgiu originalmente sem nenhuma relação com o vilão em Justiça Cega de Sam Hamm (autor do roteiro do primeiro Batman de Tim Burton) e Denys Cowan, onde Ducard era, exatamente como permanece até a metade do filme de Nolan, um mestre de Bruce com uma moral ambígua.
Justiça Cega foi publicada completa pela Abril em Batman Anual 1.
Ducard ainda deu as caras novamente durante a Saga O Legado do Demônio publicada nos gibis de linha da Abril, aonde obviamente ele e Ra's Al Ghul eram pessoas completamente diferentes.

Várias cenas de Bruce no Tibet com a Liga das Sombras, conhecida na HQ como Liga dos Assassinos, foram baseadas nas primeiras aparições de Ra´s Al Ghul criadas por Denny O´Neal e Neal Adams e reunidas na coletânea publicada pela Panini com o título Contos do Demônio.
Nestas histórias também fica mais claro que o personagem misterioso que diz ser Ra's Al Ghul no começo do filme (Ken Watanabe) era um Ubu, uma família de servos de Ra's que sempre que um morre, é substituído por outro, exatamente como ocorreu em Batman Begins, quando surge um novo Ubu na festa de Bruce Wayne com a mesma função do anterior: fingir ser seu mestre para protegê-lo.

Mas o relacionamento paternal entre Bruce Wayne e Ra´s Al Ghul foi explorado principalmente em O Filho do Demônio de Mike Barr e Jerry Bingham, aonde Bruce tem um filho com a filha de Ra´s, Tália que, pelo menos até agora, havia ficado de fora da franquia cinematográfica do Morcego e deverá aparecer finalmente no derradeiro filme Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge.

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por Ultrablog
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