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A gente lemos: Marvel Noir no Brasil (Homem Aranha e X-Men)

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Óh eu não sei se eram os antigos que diziam... Em seus papiros, Papillon já me dizia: Que nas torturas toda carne se trai...


Bem meus amigos da Rede Globo, estou eu de volta para apresentar mais um A gente lemos.

Acho que todo mundo já está meio careca (uns mais do que outros) de saber da iniciativa da Marvel, lançada em 2009, de ambientar alguns de seus personagens num clima noir - temporalmente, o período dos anos de 1930, período pós-Depressão Econômica e com toda a ambientação suja, depressiva, das histórias pulp de detetives e gangsteres. Num resumo, a iniciativa Marvel Noir não passa de uma série de "elseworlds" (com o perdão de usar um termo da concorrência) ambientado ali pelo climão sujo, depressivo e sarcástico dos anos 30/40.
Pois então. Depois de Spider-Man Shattered Dimensions (2010), quando o público brasiliano viu a versão noir do Homem Aranha pela primeira vez, este ano a Panini acabou lançando nas livrarias os encadernados em capa-dura das séries do Aracnídeo e dos Mutantes. E não se preocupe com a capa-dura - é aquela da Indonésia, baratinha e que cabe no bolso de todo mundo.

Enfim, como o clima noir me interessa, comprei os dois álbuns, li-os e... er... bem... hum... Vamos a eles.

Marvel Noir: Homem Aranha
(David Hine e Fabrice Sapolsky nos roteiros, Carmine di Giadomenico na arte, 100 páginas, capa dura, R$19,90)



O ano é 1933. Arrasados pela quebra da Bolsa de Nova Iorque, os cidadãos da grande metrópole sofrem com o desemprego, a fome, a criminalidade e a corrupção dos poderosos. Nesse mundo desolado, não há quem os defenda, apenas a voz de May e Ben Parker, comunistas que, sobre seus caixotes, insuflam o povo a lutarem por algo melhor para si, a se levantarem contra o crime e a corrupção, ambos representados pela organização do Duende.
Quando Ben Parker é covardemente assassinado, o destino acaba levando o jovem Peter, seu sobrinho, a unir-se a Ben Urich, um repórter cínico e desiludido do Clarim Diário e a topar com uma estranha aranha mística no caminho...


Num resumo, Homem Aranha Noir é isso aí: os Parker são pobres miseráveis vítimas (como tantos outros) do crack da Bolsa. E como em todo o caso onde a miséria impera, a corrupção e a criminalidade crescem - o Tio Ben morre por se levantar contra isso. Perceba que esta acaba sendo a primeira grande mudança do Aranha tradicional (além, óbvio, da ambientação): Tio Ben não morre por negligência de Peter. A questão da responsabilidade como um valor ainda está lá, mas diluída, mais indireta. A segunda grande mudança é que, assim como a maioria dos personagens da Marvel, o Aranha é um "filho do átomo" - sua inspiração nasce justamente do advento da era atômica. Então, como fazer para que ele seja super sem isso? A saída vai na linha da aventura, do clássico objeto-místico-de-uma-civilização-perdida.



Agora, o grande lance por detrás de Homem Aranha Noir talvez seja o tom. O Aranha/Peter não é engraçado - é deprimente, angustiante. Não faz piada, não se diverte... Ao mesmo tempo, mesmo seus vilões mais patéticos (tipo o Abutre) não são engraçados, mas bizarros. Medonhamente bizarros. Mas o mais engraçado de tudo é ver como o Homem Aranha noir e sua ambientação lembram... o Bátema! Sim, marvelados, tremam porque o Homem Aranha noir não passa de uma cópia da morcega. Juro que eu não estou fazendo de sacanagem - as semelhanças são tantas que quando enfim se revela porque Norman Osborn é chamado de Duende, eu pensei: "Cacete, é o Croc!"
Nos aspectos técnicos, acho que a arte do Giandomenico (que já tinha dado as caras por aqui em Magneto: Testamento) não chega a comprometer, ainda que passe longe de ser genial. David Hine e Fabrice Sapolsky, por sua vez, entregam um roteiro até interessante, mas que falha miseravelmente em adaptar a essência do personagem a uma outra ambientação. Homem Aranha Noir não é uma história do Homem Aranha - a gente só o reconhece pelos nomes e poderes. Talvez não fosse possível adaptar o conceito de responsabilidade (que é o mote do Aranha) para o período depressivo dos anos 30, mas transformá-la numa trama de vingança justiceira pegou mal - ou, na melhor das hipóteses, soou estranho.
No fim, Homem Aranha Noir é uma história mediana (na melhor das hipóteses).



Nota: 5


Marvel Noir: X-men
(Fred Van Lente nos roteiros, Dennis Calero na arte, 120 páginas, capa dura, R$19,90)



"Nova York, 1937. Peter não consegue se livrar da influênca do pai. Sua irmã, Wanda, deve uma alta quantia a Remy Le Beau, proprietário do Club Creole. O pai de Peter e Wanda, Eric Magnus, é um figurão da polícia: corrupto, violento e sem escrúpulos. Anne-Marie Rankin tem o dom de se tornar quem precisar ser. Preso numa cela, Charles Xavier se pergunta o que planejam seus ex-alunos da 'Escola Xavier para Juventude Excepcionalmente Transviada'. Agora Jean Grey está morta, mas não há ninguém que possa investigar o crime. Ninguém com poder para fazer alguma coisa. Mas a quem interessaria a morte de uma das aberrações de Xavier?"


Sim, deu preguiça e eu copiei a sinopse da contra-capa. Me processem.

Diferente da HQ do Aranha, que se focou na questão político-econômica dos anos 30, X-men Noir se pega mais naquilo que a maioria das pessoas entendem como o básico do noir - o crime, o detetivesco cínico.

X-men Noir se foca nisso. E se foca tanto que, caramba, deixa de ser uma história dos X-Men! Em X-men noir, os mutantes, digo, sociopatas, são apenas coadjuvantes do estranho Thomas Halloway, que só graças ao Universo HQ eu descobri se tratar de um personagem perdido da Marvel chamado Anjo.



Se em HA: Noir os autores falharam em não conseguir adaptar a essência do personagem aos anos 30, em X-men isso é ainda pior. Não é só porque um sujeito usa óculos de lentes vermelhas que ele é o Ciclope, nem todo cara de pés grandes, descalço e com fala empolada é o Fera, e muito menos qualquer esquentadinho será, nem de longe, relacionado ao Homem de Gelo. X-men Noir é uma tentativa boba, ridícula, de levar o visual dos mutantes sociopatas aos anos 30. E se limita mesmo ao visual. Nada na minissérie reflete (ou remete) aos personagens que conhecemos. Suas personalidades são mal desenvolvidas, rasas e algumas adaptações são completamente frouxas. Transformar os mutantes em "sociopatas" incompreendidos não cola, não tem pega nem o mesmo apelo. É até patético, pra dizer a verdade. Além disso, trama não se decide se Xavier é um cientista visionário e incompreendido ou um arremedo de Fagin (de Oliver Twist), o bandido que vive de treinar pequenos ladrõezinhos.

Exceto Jean Grey, Magnus e Pietro, todos os mutantes não passam de cenário - e um cenário tão relevante quanto aqueles desenhados por Felipe Gomes na Grande Saga MdM.

Não bastasse isso tudo, a linha geral da história é uma imitação barata de "O Grande Truque", de Cris Nolan, com delírios de Watchmen (sim, tô falando do conto no final do álbum) e que no fim promete mais do que consegue (ou se esforça) pra cumprir. Inclusive, se o roteiro já decepciona, a arte acompanha a descida da ladeira. O uso indiscriminado e incompetente do referências fotográficas (Xavier é Ben Kingsley, Adrien Brody é Gambit...) incomoda, mas ainda incomoda menos que a inconstância do traço - os personagens são difíceis de se reconhecer no correr da trama. Magnus é, numa mesma página, um homem de meia idade e um velho-decadente-uva-passa. Na página 44, a diferença de texturas e efeitos no quadro com Cain Marko dá um ar completamente amador à coisa toda.



Enfim, X-men Noir é uma droga embalada em papel de qualidade e capa-dura. Se fosse lançada num mix mensal, seria tão lembrada quanto o gibi da Miss Marvel. Inclusive, palmas para a Panini, do ponto de vista comercial - colocando uma embalagem bonitinha num material ruim, conseguiram chamar atenção e vendê-lo. Porque eu te digo uma coisa: se fosse publicada aqui como foi nos EUA (em quatro partes) poucos leitores comprariam a número dois, e quase ninguém chegaria ao terceiro número.

Nota: 0

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No fim, diferente nas propostas (porque uma era ruim desde o início e esta, noir, parecia boa) Marvel Noir, pelo que chegou ao Brasil, foi uma ideia tão boa quanto o Marvel Mangaverso. E com resultados quase idênticos: o que uma iniciativa teve de melhor foi quase bom, enquanto o que tinha de pior era ruim de regaçar. No caso de noir, fica evidente o caráter de iniciativa de segunda desde a concepção. Fred Van Lente? David Hine? Cadê os roteiristas figurões da Marvel pra tocar um projeto desses?

PS.: Ah, sim. A chamada do post não tem nada a ver com o texto. Tipo X-men Noir, que não tem nada a ver com nada...


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