
Bom, como o Triplo ficou responsável por falar da Rio Comicon (num post que deve sair em breve), me restou fazer um resumão do que foi a "entrevista coletiva do povão" que foi feita com o ilustríssimo roteirista Chris Claremont, o cara que ao lado de John Byrne foi responsável pela Fase mais importante das HQs dos X-Men.

Obrigado ao Dr. House que me cedeu a senha dele já que só o Triplo tinha credencial de imprensa e eu não consegui convencer os caras que era assistente dele pra entrar na maciota. hehehehe!!!!
Bem, o Claremont foi bastante evasivo, pra não dizer demagogo, quanto as questões mais polêmicas envolvendo suas antigas brigas com velhos parceiros criativos, como John Byrne e Jim Lee. Foi assim também quando questionado sobre sua conturbada saída da Marvel no princípio dos anos 90. Nessa últimas questão, apenas brincou dizendo:
Essa pergunta foi tão século XX.
No entanto,por duas vezes, um dos organizadores do evento que estava conduzindo as perguntas e estava sentado na mesa ao lado do escritor, tomou a palavra e procurou perguntar sobre isso. Primeiro questionou o que ele aprendeu de narrativa de quadrinhos com o Byrne, o que o Claremont polidamente disse (após párar pra pensar um pouco) que todo bom escritor sempre aprende algo com todo artista com o qual trabalha.
Em outro momento quando questionado sobre, se caso fosse seu próprio chefe, contrataria Rob Liefeld, ele também saiu pela tangente dizendo que seria mais educado deixar a roteirsta Louise Simonson, por ser mulher, decidir. Ou seja, se o cara não falou mal nem do Liefeld, não falaria mal de ninguém!

Aliás, foi nítido a relação dele com as mulheres. Muitas meninas são fãs dos X-Men e ele tem plena ciência disso. Por isso também falou do quanto gostava de trabalhar com suas heroínas. E quando uma menina da platéia se levantou timidamente e perguntou: "Pode ser uma pergunta boba, mas existe algum personagem que o senhor gostaria de ter desenvolvido mais?" o velhinho não se fez de rogado e mandou um simpático "Pode ser uma resposta boba..." e emendou dizendo que sempre existem personagens e histórias para serem aprimorados, sacando então um caderno que segundo ele carregava de um lado pro outro para anotar idéias.
De fato, sua visão dos personagens foi um ponto interessante da entrevista. Revelou que seu plano sempre foi conduzir Magneto por toda a sua trajetória de vida até o ponto em que ele se regenerasse e se tornasse o novo Professor X. Já o Wolverine ele declarou que foi um acidente de percurso, que não esperavam que ele desse tão certo porque Logan era o protótipo do badboy, mas também disse que ele era um personagem com vastas possibilidades pra se trabalhar em diferentes tipos de aventuras e por isso gostava tanto dele.
Só que até se tratando disso ele ainda arrumou um jeito de ficar em cima do muro. Tanto sobre a pergunta de quem era o melhor líder da equipe (Ciclope ou Tempestade) ou quem era o verdadeiro amor da Jean Grey (Wolverine ou Ciclope), ele falou que não poderia dar uma posição definitiva. No caso da pergunta sobre quem a Jean ama, por exemplo, (e nessa hora um grupo de meninas na minha frente se deram as mãos tremendo como se fosse último capítulo de novela) ele disse que em diferentes momentos da vida dela ela amaria ambos e que um não seria maior que o outro. Daí já lembrei que ele botou a Jean até apaixonada pelo Fera em X-Men Forever e... bom, deixa pra lá.

Claremont também afirmou que a Rachel Summers já estava ali como substituta da Jean e que quando elaboraram o X-Factor ele deu uma opção para a Jean não ter que ressuscitar, propondo colocar a irmã dela, Sara Grey, na equipe como interese amoroso de Scott Summers e companhia e assim gerar o conflito que supriria a ausência da irmã, mas não foi atendido. Aliás, o que teve de pergunta sobre a polêmica volta da Fênix... realmente eu até entenderia se o cara tivesse se estressado, tendo que responder essas mesmas questões desde os anos 70. Mas ao invés disso ele até se soltou e deu uma trollada básica no nosso amigo Triplo, que foi um dos três ou quatro que fizeram essa pergunta, avisando que ia responder aquilo pra meia dúzia do auditório ainda não sabia.
E não é que é foi justo aí que ele foi mais revelador? Praticamente, Chris Claremont disse que matar a Fênix e trazê-la de volta depois foram ordens do editor da Marvel na época, Jim Shooter e que ele sempre foi contra ambos, especialmente a ressurreição que tirou o valor dramático de sua morte... mas não teve controle criativo daquela situação. Aliás, a única pessoa que ele criticou abertamente (e com alguma veemência) foi Jim Shooter. Claramente, Claremont não digeriu até hoje a interferência editorial que sofreu na época (e as consequentes cobranças que sofre até hoje por isso) e até aproveitou pra fazer propaganda dos seus livros, dizendo que preferia escrever romances exatamente por ser seu próprio chefe.
Houve uma tentativa de tirar um pouco o foco da entrevista dos X-Men por parte da organização, tentando fazer o Claremont falar de outros trabalhos, mas a verdade é que ninguém tava muito interessado em outras coisas. Ele falou um pouco sobre suas influências literárias como Shakespeare e Rudyard Kipling, sobre seu trabalho na DC, sua opinião sobre o Reboot, e, quando questionado sobre quadrinhos adultos e autorais, elogiou o trabalho dos citados Alan Moore, Neil Gaiman e Frank Miller só pra concluir malandramente:
Mas eu vendi mais do que eles.

Ainda sobre a famosa história de que James Cameron, que segundo o autor foi o primeiro diretor a querer levar X-Men aos cinemas, teria pego seu roteiro do clássico Dias de Um Futuro Esquecido para fazer o primeiro Exterminador do Futuro, Claremont (adivinhem?) não negou nem desmentiu e mandou perguntarem ao próprio Cameron. Se bem que nessa resposta, ao contrário das demais, a indireta dele foi bem direta e pelo seu sorriso ficou claro que ele sabia (ou pelo menos acreditava) que sua Saga dos X-Men foi mesmo a "inspiração" pro filme.
Como a coisa tava muito saudosista (quem entrava ali e não conhecia o Claremont nem os X-Men ia achar que o cara escreveu aquelas histórias no mês passado e não a mais de trinta anos) eu tomei a palavra lá pelo meio da entrevista com algo em mente pra dizer. Na verdade a princípio eu perguntaria se era verdade o boato de que a Mística em vez de mãe seria o pai do Noturno, sendo a Sina a mãe. Mas um cara perguntou sobre a relação lésbica delas e também foi zuado pelo autor:
Você não é muito jovem pra pensar nessas coisas?
Que a seguir disse que não tinha nada contra qualquer manifestação de amor. Então, como não quis me repetir como no caso da questões sobre a Fênix, decidi fazer outro tipo de pergunta. Pra situar bem a questão e não dar espaço pra ele fugir de uma suposta polêmica eu pontuei alguns fatos, o que fez com que o cara da organização mandasse eu me apressar. Na verdade eu senti que ele ficou com cagaço de eu falar alguma merda pro Claremont pelo tom que empreguei.
Eu disse que ox X-Men eram muito mais que um só uma HQ pra todo mundo que lotou a sala pra vê-lo, que as histórias com o John Byrne eram importantes metáforas da sociedade, mas frisei que isso era passado. Foi bem o que eu sabia que todo mundo achava, era o papo de todos que viram o escritor passando pelos stands da Rio Comicon, mas que ninguém teve até então cara-de-pau pra falar. Disse que hoje as histórias dos X-Men, mesmo com grandes autores como Grant Morrison e Joss Whedon, não eram mais as mesmas e que hoje as histórias do próprio Claremont eram muito criticadas e perguntei o que os X-Men ainda tem a dizer as pessoas de hoje?

Confesso que só agora que estou escrevendo esse texto e ouvindo áudio gravado pelo Triplo na ocasião é que eu consigo comensurar o silêncio que pesou naquela sala na hora... Mas, após um tempo, Chris Claremont me surpreendeu. Ele tinha sido simpático e carismático a entrevista toda e naquele instante quando eu propositalmente o desafiei, senti que ele demonstrou uma outra faceta: humildade. Primeiro se mostrou lúcido ao falar que os X-Men ainda tinham muito a dizer as pessoas do mundo porque várias mudanças estavam acontecendo, citando o recente caso da derrubada do Ditador Kadafi.
Lembrou que ele viveu uma época que muitos de nós não viveram, em que todos viviam a sombra de uma desgraça nuclear. Falou:
Talvez eu tenha sido tolo...
Parou um pouco pra pensar e emendou
Talvez eu tenha sido arrogante... ao achar que eu pudesse retratar isso nas minhas histórias.
Se referindo as constantes mudanças da sociedade norte-americana. Segundo ele, montar os Novos X-Men com um canadense, uma africana, um russo, um alemão etc. era uma forma de enxergar as mudanças que ocorriam também nos EUA do período.
Concluiu a minha resposta contando que certa vez viu uma fã chorando num evento e ela lhe disse que era porque amava os X-Men e o marido dela não suportava eles. O escritor falou que ficou impressionado com o quanto os perosnagens podiam fazer parte da vida das pessoas e se sentia responsável em criar as melhores histórias possíveis por isso. Aqui cabe um parêntese.

Acredito falar por todos que leêm o MDM, quando digo que nós todos estamos decepcionados com os trabalhos do Chris Claremont a frente das equipes mutantes nas últimas décadas e ficamos divididos entre admirar um dos principais homens (senão o principal) que definiram a identidade dos X-Men e do universo mutante ou criticar sua obra atual.
Mas creio que a entrevista e essa proximidade com o público brasileiro serviram pra mostrar que ele não faz as cosias de sacanagem ou porque está maluco. Ele se importa com os fãs e está bastante lúcido. Porém, o fato é que tem suas limitações e sua visão ainda é a de uma pessoa vinda de outra geração.
Nada muito diferente do que ocorre com Frank Miller e seus atuais trabalhos, com uma pequena diferença. Chris Claremont definitivamente não é arrogante e menos ainda se acha dono da verdade. Só por isso já merece a minha admiração. Quanto ao fato dele não querer falar mal dos colegas com quem já se desentendeu, ele basicamente faz o mesmo que o Stan Lee nas entrevistas, procura brincar com o público a toda hora e evita rusgas. E se a essa altura da vida ele ainda guardasse rancor a esse ponto seria um velho chato e amargo. Mas, exceto pelos desentendimentos com Jim Shooter, ele demonstrava toda hora estar feliz e realizado por estar no Brasil falando com sobre seu trabalho e isso criou um clima legal an entrevista.

A galera também empolgada fez umas perguntas muito nada a ver. Tinha um cara que não sabia que o Lein Wein criou o Wolverine e não o Claremont e outro que só se referia a equipe como os "Xis Men". Mas o "melhor" foi mesmo o figura que lançou a pergunta mais infame da noite:
Quem o senhor levaria numa balada no Rio de Janeiro? O Wolverine ou o Dentes-de-Sabre?
Ao que ele dissertou dizendo que conhecia e gostava dos intérpretes dos personagens, Hugh Jackman e Liev Shreiber, mas que levaria o Ian Mackellen.
Huum... boiola! HUIAHAHAHAHA!!!!
Ao final da entrevista, o organizador da mesa pediu uma salva de palmas como homenagem para a Beth Fleicher, esposa do Chris que estava presente no evento, e lançou o desafio:
O Senhor se habilitaria a salvar o Aquaman?
Ao que ele prontamente retrucou:
Aquaman? Who?
Agora, algumas "fofocas dos bastidores":

- Após o evento Chris Claremont e o editor Bob Schreck, outro convidado da Rio Comicon, foram a um show da banda Uisqueletos Extravaganza na Rua do Lavradio e tiraram fotos com os músicos.
- Um fã mais afoito tentou pegar autógrafo do roteirista no banheiro, mas foi barrado. HUIAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA!!!!!!!
- A grande trollada do evento ocorreu numa entrevista anterior a do Claremont, mas ainda gerava comentários ao chegarmos lá. Todos os convidados internacionais, assim como as pessoas presentes no auditório, estavam com um fone daonde ouviam uma intérprete traduzindo simultaneamente do português pro inglês e vice-versa, daí eles falarem tão pausadamente, pras duas vozes não saírem atropeladas. Acontece que um dos desenhistas internacionais (não lembro quem, mas acho que era um argentino), quando ficou sabendo do procedimento, soltou:
Finalmente vou poder controlar aquilo que uma mulher fala.
Dizem que a intérprete não gostou nem um pouco...
Pra encerrar confira um video do autor brincando um dos fãs enquanto distribuía autógrafos no evento:
E o áudio da entrevista do Chris Claremont (sem a tradução simultânea evidentemente)...
http://www.4shared.com/audio/D8lPZboq/CRCC.html
/blogs/melhoresdomundo/2011/11/11/como_foi_a_entrevista_de_chris_claremont/
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